»mmmiammmmVâmiawwí!SiBsannBSBBMBMi
tt»2JL
rr.-.TT.-.TT.-.Tr.vrT.v
; prouihcia
doòufnafnaid^j) .
kA?.uA^A.vÀ^iiviivix.:ax.>xxvix..a:ióAj...A^-
SWBHSBWBWglICTIByiSHSfE^
Àprouaçattí.
XTl a prefente obra de Pêro de Magalhães, por mandado dosfe-
| nhoresdoConfelhogeraidaínquiíiiçam^&nanicemcoufaque
feja contra noíTaíanâaPeecathoiica, nem os òós coftuaics , antes
muitas, muito pêra ler^ojedezdeNotiembro de 1 ç 7 5.
Fiancifcode Gouuea.
X^Ifta a informaçam ,podefe imprimir,& torne o próprio có hum
dos impreífos a efta mefa: & cite defpacno Te imprimirá noprirj
cipiodoliurocoma dita inFormaçam. hm Euoraadez de Nouem
bro. Manoel Antunez Secretario do Cófclho geral do Saneio orfi
cio da laquiííçam o fez de 1 5 7 j.annos.
Liáo Anriquez. Manoel de Coadros.
Podefe imprimir efta- obra , por nam fer prejudi-
cial em coufaaigíu,arAveò muy conveniente pêra
fe poder kr : é i-isboaa 4. ne ireucreno de i)"j 6>
LbníLuão de Maios.
â
í¥:
Vendenfe em cafa de loao hpezjkmro
narmnoua.
«A^AAVAAUAAYAAVAAVAAUMkVAK^^
vg^jt^s^
i
faj Ao muito illuítre fcnhor Dom
L i o n i s pereira fobre o liuro que lhe
cfferece Pcrodc Magalhães: tercetos
de Luis de Camões.
Epoisqtie Magalhães teue tecida
ji breue hiãorlajua que illuftraffef
J una SanSla Cru^ pouco fabida*
Imaginan lo a quem a dedxajfe,
Ou com cujo fauor defenderia
Seu huro,de algum Zvilo que ladrajje:
Tendo niftooccupada a fantafta,
Lhe J breueo hum fono repou fido »,
Antes que o Sol abrijfe o claro dia-,
Em jonhos lhe aparece todo armado
M(irce,h'andmdoalançafuriofif
Com que fe^quem o Vto todo enfiaio^
Dizendo em Vo^pefada ty temer o (a,
TSLão he juíío que a outrem je ojjereça
Nenhua obra quepojja ferfamofa,
Se nam a quem por armas reíphndeça,
No mundo todo } com tal nome infamai
Que louuor immortal Jempre mereça,
Ijlo afíi dito, ApoU que da flama
Celeííe guia os carros, da outra parte
Be lhe aprefmta 9 typorfeu nome o dama
A i Dizendo
:-^AVA*:.UV^AVaAVAAVU^/-k^Vll.VAlS'i/.j2Cl..aX^!AA..ULlt..JLA...J.
M&
wrEsri&nsn
TERCETOS DE
Dizendo, Magalhães ,poílo que Marte
Com [eu terror teefyante,todauia
Comigo deuesfb de aconfelharte.
Hum barão fapiente ,em quem Talia
^osfeusthef ouros, (sr tu minha /ciência.
Defender tuas obras poderia.
Hejuíloquea efcritura na prudência
Jfcbefuadefenfam, porque a dureza
Das armas , he contraria da eloquência:
\Afii dijfe, O* tocando com deflre^t
Reitera dourada , começou
De mitigar de Marte a fortaleci
Mas Mercúrio, que fempre coftumou
ji dtfp.irtir porfias duuidofas,
Co çaduçeo m mão que fempre\>fou,
Determina comporás perigo fa*
Opiniões dos Deofes inimigos,
Contrapões boas,juftas tsr amorofts,
E diffe, bem f abemos dos antiguos
Heroes , p* dos modernos, que prouaram
De Bellona os graulfsimos perigos,
Que também muitas vices ajuntaram
As armas eloquência, porque as Mufiu
Mâ capitães na guerra acompanharam:
Nunqua Mexandro,ou (rfarnas confufas
Guerras, deixarão oefludobum breue eípaco]
Nem armas da /ciências fam escufas.
Nua
^^tAA^!ÍlÁÍ£AAVAaUAA\
.»AXM1^A4M1AVA^UJ£U4VA*^AVAA^
lV^T»\yT4-JT,>yrATTt^TATn^T.\Tr.%T^\TT/.TTATT^.TWTTP.TT«VfTr,VTgi
Í
DE LVIS DE CAMOENS. |
N«<* mao liur os, noutra ferro (j? aço:
^Á bua regetsr enftna , O* outra fere
Mais co faber Je Vence que co braço*
fpois logo barão grande fe requere,
Que com teus does Apollo illuftrefijet,
E de ti Marte palma w gloria eifiere.
JEfte Vos darey eu, em que je Veja, í
Saber & esforço no fereno peito,
Que he Dom Lionhquefa^ao mundo enmjal
Deíle as Irmaas em Vendo o bomfogeito.
Todas noue nos braços o tomaram,
Criando o com j eu leite no feu leito,
jís artes & J ciência lhe enfinaram,
Indhuçamdiuina lhe influir am,
As virtudes moraes que o logo ornar dml
Daqui os exercidos ofeguiram,
Das armas no Oriente, onde primeiro^
Hum foldado gentil ihBituiram.
Ali taes prouas fe^de caualleiro,
Quede Chrtftão magnânimo (sr figuro,
A ft mesmo Venceo por derradeiro.
Depois ja capitam forte o* maduro,
Gouernando toda Áurea Cherfonefo,
Lhe defndeo co braçoodebdmuro.
forque Vindo a cercala todo opefo
Do poder dos Jchens, que fe fuftenta
Dofangue alheo9 em fúria todo acefa
Al Efh
f^iriMgaOTJirrtaf.««MifMiMiiMmMifMawA^^^^^
E5t5
i
BflS
TERCETOS
BJlefo que a ti Marte reprefenta
0 caíligou de forte, que o Vencido
De ter quem fique Viuofe contenta.
Tois tanto que o gr am ^eino defendido
Deixou ifegmda Ve^com mayor gloria;
tperaoyr gouernar foy ellegido.
Enam perdendo ainda da memoria
Os amigos ofeugouerno irando,
Os immigos o dano da ViSloru.
Hliscom amorintrinfeco efptrando
EJlam por elle, er os outros congelados
0 vão com temor frio receando.
Pois Vede fe feram desbaratados
De todo ,porftu braço fe tornajfe,
E dos mares da Índia degradados.
Porque he juflo que nunqua lhe negafft
0 confelbodo O/impo alto Zrfobido
Fauorts* ajuda com que pelejajjê.
Pois aqui certo efla bem dirigido,
De Magalhães o liuro, eftefodeue
Defer de Vos, ò Deofes escolhido.
IJlo Mercúrio dijfe : & logo em breue
Se conformaram nifto, Apolo tsr Marte,
E Voou juntamente ofono leue.
Acorda Magalhães, tsrjafe parte
A Vos offerecer Senhor famofo
Tudo o que nellepos,fciencia <? arte.
Tem
^AA^-AAiOAVA IVA t'.'H'.'t AvA L:*X AVA 'ii.il AVA AVA AVA AVA AVI
kAVAAVAAVAAVA AVIAVA AVA AVAAVAXVA AVJ
.'.TT.'.TT.'.T T.VT T.VT YWYT.Vrr.íTTíUrT.V» T.%T T.>TTÍ
1
DE LVIS DE CAMOENS.
Tem claro eílylo, ingenho turufo,
fera poder de Vos fr recebido,
Com mão benigna de animo amorofo.
forque fo de namfer fauorecido
Hum claro efyiritofoa baixo (? efcuro]
E feja elle com Vosco defendido,
Como ofoyde Malaca o fraco muro.
f Soneto do mesmo Autor ao fcnhorDom
LioniSj acerca davi&oria que QUU6
contra elRey do Achem
em Malaca
VOs Nimphas da Gangetica efpejfural
(antay fuauemente em Vo^fonora
Hum grande Capitam, que a roxa Âhrv ê
Vos filhos defendeo da noite efeura,
Jjuntoufe a caterua negra tpdura,
Que na Áurea Cherjonefo afouta mora%
fera lançar do caro ninho fora
Âquelles que mais podem que a Ventura*
}das hum forte Lião com pouca gente,
A multidam tam fera como neciap
Diflruindo çaftiga , ç? torna fraca.
fois òNimph&s cantay que claramente
Mais do que fe^Leonidas em Grécia
0 nobre lÀonkfe\ em Malaca*
é 4 ^5
?
*Mavá aia m, . a Ai3A*M*jmAjK«a*aajrauK«aAV
»<ycôfttóftCDrtúò/voortix>4^A!»ftooA,
',■■' . ■■"k«,»">A<>') A <V> A «
fhO MVITO ILLVSTRE SENHOR
DOM LIONIS PEREIRA,
Epiftola de Pêro de
Magalhães.
ES T E pequeno feruíçó
(muito illuílre fenhor ) que ofTere-
co a V.M. das premirias de meu ira
É? co entendimento:, poderá nalgua
maneira conhecer os defejos que
tenho de pagar com minha pofsibi
lidade algúa parte do muito que fc
deueá Ínclita fama de voífo heroy-»
co nome . H iíloaísi pelo mereci-»
I !Sí^^^^^J|^â\l^| meto do nobihfsimo fangue & cia
^^^^r^^^^^p- ^ A ra progénie donde traz fua origem,
"J ' como peios tropheos das grandes
vjc"torias,& cafosbem afortunados que ihe hão fuecedido neífas par
tes do Oriente em que Dcos o quis fàuorecercom tam larga mão*
«que nam cuido fer toda minha vida baftante pêra fatisfazer á menor
parte de ftfus louuores . E como todas eítas razões me ponham eirt
tanta obrigaçam, & eu entenda que outra nenhúa conía deue fer
mais aceita a peífoas de altos ânimos que a Hçam das eferituras^per
cujos meyos le alcançam os fegredos de todas as fciencias,& os no-
mes vem a illuítrar fcús nomes & perpetualos na terra com tama im
mortal ,determiney escolhera V. M. entre os mais fenhores da ter
ra,&dedicarihe eftabreue hiítoria* Aquai efpero que folgue de
rer có attençam & receberma benignamente debaixo de leu empa-
ro : aísi por fer couíà noua3 & eu a eícreuer como tefteraunha de vi-
<U: como por faber quam particular arfe içam V. M. tem ás coufas
do ingenho>&queporeítacauíaihenam fera menos aceito o exer
cicio das eferituras . que o das armas . Poronde com muita razam
íkuorecido defla confiança pofla feguramente íair a luz com efta pe
quena empreía & diuuigaJa pela terra fem nenhum receo^ten-
áo por defenfor delia aV.M. Cuja muito illuftre pei-
foanoffo Senhor guarde & acrecête fua
rida & eftado por longos &
twiicisannos.
*^AMtoÃ<£VA±VAÉlV^\'AãUAAfSk'HJiLW
II
1
PROLOGO AO LECTOR.
Qà.-VS A principal que me obrigou a lançar
mão da prefente bifloria, ty JtirCom ella a lu^
foy por nam auer ategora pejjoa que a empren*
dejfe, auendo ja fetenta t? tantos annos que e/la
prouinciahe descuberta. A qual hiíloria creyo
que mais efteuefepultada em tanto fikncio , pelo pouco enfoque
os ^ortuguefes federam fempre da mesma prouincia, que por f ai
tarem na terra pejfoas de ingenho zsr curió f as , que per melhore*
Slíllo ornais copio famente que eu a efreuejfem. Toremjaqu*
os ejlrangeiros atem noutra eftima9ir j abem fuás particulariza
des melhor <&r mais de rai^ que nos {aos quaes lançaram ja os Tor
tuguefes fora delia a força darmos per muitas \>e%es) parecg cou*
fa decente O* necefjaria, terem tombem osnojjosnaturaes ames
ma noticia, eípeáalmente pêra que todos aquelles que neíles %ei
nos Viuem empobreça nam duuidemescolheta pêra feu emparo:
porque a mesma terra he tal, & tam fáuorauel aos que a Vam
buscar 9 que a todos agajalha <jr conmda com remédio por pobres
i? defemparados que fejam . E também ha nella coufaó dtgms
de grande admiraçam ,*& tam notaueis,que parecera descuido
t? pouca curioftdade nojfa , nam fazer mençam delias em algum
difurfo, tsr dalasa perpetua memoria^como coflumauam os An
tiguos : aos quaes nam efeapaua coufa algua que porextenfo nam
reduzjfjem abifloria}zjr feçefjem mençam em juas efripturas
de couf as menores que efí as, as quaes hoje em "dia viuem entrenós
como f abemos } ty viueram eternamente . E fe os antiguos Ter
tuguefes
iiMntaMftiaiiiBaiMti»Vá'áftU éía ±>.* ivaxvíavj í.>a im ra rei isa oraitira ireausg
PROLOGO AO LECTOR,
tuguefes, & ainda os modernos mm foram tam pouco éjfeiço&
dosa escriptura comofam, nam fe perderam tantas antiguida*
4es entre nos de que agora carecemos , nem ouuera tam profunda
esquecimento de muitas coufas, em cujo e findo tem muitos homes
doSlos canfado , &r reuolmdo grande copia de livros fem as pode*
rem descubrir, nem recuperar da maneira que pajfaram . Vaque
Vinha aos Gregos <& T^omanos auerem todas as outras nações por
barbaras ,<&> na Verdade coreia lhes fodiã dar eíte nome poise*
ram tam pouco folicitos t? cobiço fos de honra qmporfua mesma
culpa deixauao morrer aquellas coufas que lhes podiam dar nome
W farelos immortaes . Como pois a efcripturafeja vida da memo
ria >& a memoria húafemelhança da immortalidade a que todos
deuemos afyirar, pela parte que delia nos cabedais mouido de fias
rações ,fi $er efta breue hijloria ,pera cujo ornamento nam bus*
quey epítetos exquifttos, nem outrt firmofura de Vocábulos de q
os eloquentes oradores coflumão vfir , pêra com artific io de pala*
uras engrandecerem fuás obras . Somente procurey escreuer e/Ia
na Verdade, per hum eílillo fácil & chão , como meu fraco inge*
tiho me ajudou, defejofo de agradar a todos os que delia quifrem
ter noticia . <Peh que deuofr desculpado das falta* que aqui
me podem notar : digo dos discreto, que com ftm %elo o c«»
JlumÕQfa^er , que dos idiotas ts maldizentes bem
Jey que nam hey descapar , pois eHk certo
mm perdoarem a
mngtteitif
Qpl i
i*&^*aâfcyA*yAAyÀ*fru*^A^AtfÀ'MTi»afr^
éf£ Capit. Primeiro, De como fe de£
cobrio efla prouincia , & a ra^am porque fe deue
chamar SanBa Qu^ (ynam
QraftL
BINANDO aquellc muycathó2
lico & fercnifsirao Príncipe elRey Dom
Manye l ,fezfe hua frota pcra a índia
de que hia por capitam mórPedralua-
rez Cabral : que foy a fegunda nauega-
çam que fezeram os Portugucfes pêra aquellas par-
tes do Oriente . A qual partio da cidade de Lixboa a
noue de Março no anno de i 5 o o . E fendo ja entre
as ilhas do Cabo verde (as quacs hião demandar pêra
fazer ahiagoada ) deulhes hum temporal, que foy qu
íà de as nam poderem tomar, &defe apartarem algus
«auios da companhia . E depois de auer bonança jun
ta outra veza frota, empégaraníè ao mar,afsiporfo~
girem das calmarias de Guiné, que lhes podiam eftro-
uarfua viagem, como por lhes ficar largo poderem do
brar o cabo de boa Efperança . Eauendo jahum mes,
<juehião naquella volta nauegando com vento pros-
pero , foram dar na cofta defta prouincia : ao longo
da qual cortaram todo aquelle dia , parecendo a
todos que eraalgua grande ilha que ali cílaua,fem
auer Piloto, nem outra pcflba algua que teueíTç
noticia
^'AiViattfe^ir.ifeiiaiCTiCTiMnaig.iifrtlfg
HISTORIA DA PROVÍNCIA
noticia delia , nem qucprefumifTcquc podia eftar ter-
ra firme pêra aquella parte Occidental . Eno lugar
que lhes pareceoddla maisaccomodado,furgirama-
quella tarde,otide logo teucram vifta da gente da terra:
de cuja femelhança nam ficaram pouco admirados,
porque era differente da de Guiné, & fora do comum
parecer de toda outra que tinham vifto. Eílando afsi
furtos nefta parte que digo, faltou aquella noite com
clles tanto tempo, que lhes foy forçado leuarem as an-
coras , & com aqueile vento que íhes era largo pora-
quelle rumo , foram correndo a cofta ate chegarem z
hum porto limpo & de bom furgidouro ondeentra-
ramrao qualpoferamentam cftenome,quehojeem
dia tem de Porto feguro , por lhes dar colheita Sc os
aíTegurar do perigo da tempeftadeque leuauam . Ao
outro dia feguinte , fahio Pedraluarcz em terra com
a mayorparte da gente: na qual fediíTe logo Mifía cari
tada , & ouue pregaçam : & os índios da terra que ali le
ajuntaram ouuiãotudo com muita quietaçam,vfan-
dode todos os ai5tos& cerimonias que vião fazer aos
íioflbs, Eaísi fe punham de giolhosôc batiaonos pei-
tos, como fe teueram lume de Fé , ou que por algúa
via lhes fora reuelado aqueile grande & ineffabil myilc
rio do Sanítiísimo Sacramento . No que moftrauam
claraméte eftaré difpoftos pêra receberé a doótrinaChri
ílaã a todo tépo q lhes foííe denudada como géte q náo
tinha impediméto de ídolos , nem profeflaua outra ley
algua
V*C±."JLX<U**AULAVAJ>V
&^l>VAl^'AXyArarAy^À%U^ÀAy*AyA*^
SANCTA CRV t. 7
algua que pode ííe contradizer a efta nofla, comoa di»
antcfcvcra nocapituloque trata de feuscofíumes . En
tamdcfpediologo Pedraluarcz hum nauioco a nouaa
clRcy Dom Manuel , a qual foy delle recebida com
muito prazer &contentamento:&dahipor diante co-
ixieçou logo de mandar algus nauios^a eftas partes, Sc
afei íè foy a terra defcobrindo pouco a pouco & conhe-
cendo de cada vez mais , ate que depois íe veo toda a re-
partir em capitanias & a pouoar da maneira que agora
efta . E tornando a Pedraluarez feu defcobridor, paga-
dos algus dias que alliefteuefazendofuaagoada&efpc
randopor terhpoque lhe leruifíe, antes de fepartir,por
deixar nome aquella prouincia, por elle nouamétedes-
cuberta, mandou alçar hua Cruz no mais alto lugar de
húa aruore, onde foy aru orada com grande folennida-
de& benções de Sacerdotes que leuaua emfuacompa
nhia , dando a terra efte nome de Sanóta Cruz : cuja fe-
ftacelebrauanaqnelle mesmo dia a faníta madre Igreja,
(que era aos três de Mayo) . O que nam parece carecer
de myfterio, porque aísi como neftes Reinos de Portu
gal trazem a Cruz no peito por iníígnia da ordem &
cauallariade Chriftus, afsiprouue a elle que efta terra
fe descubriíTea tempo, que o tal nome lhe podefTe íer
dado nefte fanóiodia,poisauiadelerpoííuida de Por
tuguefes,& ficar por herança de património aomeftra
doda mesma ordem de Chriftus. Poronde nam pare
ce razão pque lhe neguemos efte nome, nem que nos
esqueçamos
imU^tt^Aà'JM*lWA*.UA!»JAMÍt^^
QatfooflúOflúaAOOflOOAõOftcoflOOft<x><too<v
líEijiEaiKfiiafigaiiaFlfeaiaaiigaiaijiiáf)^giiagiKT^aiE>
HISTORIA DA PROVÍNCIA
iíqueçamos delle tam indiuidamente por outro que
lhe deu o vulgo malconiiderado,depoisque opaoda
tinta começou de vir a cftes Reinos. Ao qualchama^
ram braííl por ler vermelho &: ecr lemelhança de bra-
íâ, & daqui ficou a terra com efte nome de Braívi .Mas
pêra que nefta parte magoemosao Demónio, que tan
to trabalhou Ôc trabalha por extinguir a memoria da
SanótaÇruz.,& defterrata dos corações dos homísCme
diante a qual fomos redemidos & tiuradôs do poder dç
lua tyrannia)tornçmoslhea reílicuiríeu nome,&cha*
memoslheprouinciadeSanda Cruz corno em priíici
piojqq^afsi oamoefta também aquelle illuftre & fa-
irjólodcritor Ioãode Barros na fua primeira Década,
tratando defte mesmo defcobrimer toj. Porque na ver
cUçk niais he deftimar & mithor íoa nos ouui Jos da gé
te Chriltaão nome de hum pao em que fe obrou o rny
fterio de nofTaredempçam,que o doutro que namíer
lie de mais que de tingir panos ou çouíàs iemelhantes.
^ Qipit. %. Em que fe Jescreue o faio & qualidades
dcjía prouináa.
ijj\ Sta prouinçíaSanctaCruzeíláfituadana
queliá grande America,húa das quatro par
tes do mundo j Qifta o feu principio dous
grãos da equinocial pêra a banda do Sul,
&, dam ie vayeftendendo pêra o mesmo Sul atequo-
renta & cinco grãos, De maneira que parte delia fica
íituada
tfàm+^*iM*\»mix+jmr.-mmrf*mr.T**mmik'+r.-*mr.vk.mi.-*múf+mb-A»àMmM*mii^
.tyvfTWT.^w.rf.Tr.vyyAtTiwTaTT.vriTi-jy^,
SANCTACRV2. $
fí tuada debaixo da Zona tórrida, & parte debaixo da te
perada. Eftá formada eftaprouincia á maneira de húa
harpa :cuja cofhpeiía banda do Norce corre do Orien
te aoOccidente & títá olhando direitamente a Equi-
nocial . E pelado Sul confina com outras, prenuncias
da mesma America pouoadas & poííuidas de pouo
gentilicocom que ainda nam temos comunicarão.
E pela do Orienta confina com o mar Oceano Africo,
& olba direitamente os Reinos de Congo ôc Angola a
te o Cabo de boaefperança quehe o leu oppoíito. E
peia do Occidcnteconfinacomas altiísimas ferras dos
Andes & fraldas dó Perá,às quaes fam tam foberbas ea
cima da terfa^q fe d*z terem as aues trabalho em aspaf-
íar. Eateojehumíocaminholheacharamoshomens
vindo do Perúaefta prouincia^&eftetamagro^quçein-'
o paliar perecem algíiaspefíbas, caindo do eftreito ca-
minho que tnzem, & vão parar os corpos mortos tara
longe dos liuos quenunquaos mais vem nem podem
aind :i que queiram darlhesfepulrurn. Deftes& doutros
excrernosleoiclhcUescareceeíhprouinciaSãc^aCruz:
porq com íer um grande, nam tem ferras (ainda q mui
tv,) nem defeitos nem 'alagadiços, q com facilidade fc
nàm polTâm atraiieíFar. Ale difto he eftaprouincia íem
crautidi^M a meijhorperaa vidado homem que ca-
da bua das outras de America, por fer comummente,
de bós ares & fertiíifsima ,-& em gram maneira delei-
loll ôc apraziuel á vifta humana.
* O fer
8
^^•^^^^•^AVAAV^Ar^A-lUXVli^f^^X.^JttiJtl..»!!^»!!.^
ifloafiooflooflooficoflooftoortotrflooft)
HISTORIA DA PROVINCTA
Õfcrcllatam falutifera &liuredemfcrmidadcs;procé
dedosventosqgeralmentecurfamnella;osquaesfam
Nordeftes & Sues, &alguas vezes Leftes & Lesfueftes.
Ecomo todos eftes procedam da parte do mar , vê tam
puros & coados ,quenam fomente nam danam: mas
recream&acrecentamavidado homem . A viraçam
deftes ventos entra ao meyo dia pouco mais ou menos,
& dura ate de madrugadarentam ceflà porcaufa dos va
pores da terra q o apagão, E quando amanhece as mais
das vezes eftá o çeo todo cuber to de nuues, & aísi as ma
is das manhaãs choue neftas partes3& fica a terra toda cu
berta de neuoa, por respeito de ter m uitos aruoredos q
chamam a fi todos eftes humores . E neftç interualo
fopra hum vento brando que na terra fe gera, ate que ò
Sol cófeusrayos o acalma,& entrando o vento do mar
acoftumado,torna o dia claro & fereno^ faz ficar a ter*
ra limpa & desempedida de todas eftas exhalaçóes.
5 Efta prouincia he á vifta muy delicioía & freíca em
gram maneira; roda eftá viftida de muyalto&efpcíTo
aruoredo, regada com as agoas de muitas & muy prc#
ciofas ribeiras de que abundantemente participa toda
cerra; onde permanece fempre a verdura comaquella
cemperança da primauera q cá nos ofFerece Abril &
MayOtEiftocauíanamauerla frios,né ruínas de inuer
no quçoffcndam a fuás plantas, como cá oíFendem ás
nofías . Enfim que afsi fe ouue a Natureza com todas
a$çQufàsdeftaprouincia,&de tal maneira fe comedio
na temperança
i»Miif.-*M»«a-Aaji,a>vâ^-.»to»aMifta»rMMa»»ii«»ai.w'«atttti?.ui»jtoM^
Tny*T*TTATT.YTTATttWTATT.YrTA^
SA NCTA CRV2. *>
na temperança dos ares, que nunqua nellaíe fèntefríé>
nem quentura excefsiua.
f As fontes que ha na terra, fam infinitas , cujas agoas
fazemerecera muitos & muy grandes riosque poreíla
cofta , afsi da banda do Norte, como do Oriente entra
no mar Oceano. Algúsdellesnacem no interior doíèt
tam,osquaes vem per longas & tortuofas viasa buscat
o mesmo Oceano : onde luas correntes fazem áfaftar as
marinhas agoas por força,& entram ncllecótantoim-
petu ,que com muita difficuldadc & pei igo fe pode por
ellesnauegaf . Humdos maisfamoíos& principaesqj
ha neílas partes, he o das Amazonas, o qtiallaeko Nor-
te nreyograoda Equinocial pêra o Snl?& tem trinta ie-
goasde boca pouco mais ou meros. Efte rio tem naé
trada muitas iihasqueodiuidem emdíuerfas partes,&
nacedehúa lagoa queeflácemlegoasdpmafdoStilao
pé de buas ferras do Quico prouincia do Perú,dóde par
tiram jaalguas embarcações de Caftelhanos,& nauega
doporelleabaixo,vieram fairemo mar Oceano meyo
grão da Equinocial,q feradiftancia de óoolegoas per
linha direita, nam contando as mais q fe acreceram nas
voltasquefazomesmo rio. <f Ontromuy grande cin-
coenta legoasdefte pêra Oriente fae também ao Norte,
aquechamão riodo Maranhão. Tem dentro muitas
ilhas,& bui no meyo da barra q eftá pouoada de gétío,
ao longo da qual podem furgir quaesqr embarcações!'
Terá efte rio íete legoas de boca.pola qual entra tanta a
B bundancia
«""»""™^^"^»-^*"^"*™»™»^'árai^^
g»i£ãIiSaifitf(&X!SãriEsIiE2Zi]iãXiL2iIi^ai&2Ii&7i&li@I^7il
HISTORIADA PROVÍNCIA
bundanciade agoa falgada,que dahi cinquoenta legoas
peioíertaodentro,he nem mais nem menos comohú
braço de mar, ate onde fe pode nauegar por átre as ilhas
fem nenhum impedimento. Aqui fe metem dous ri-
os nelle que vem do fertam, per humdosquaes entra-
ramalgus Portuguefes quando foy do descobrimento
queforam fazer noannode ij.ôc nauegáramporelle
acima duzentas &cincoenta legoas, ate que nam pode
ram yr mais por diante por caulà da agoa ler pouca & o
rio feyreftreitãdode maneira, que nam podiam ja por
clíe caber as embarcações. Do outro nam descobrirão
coufo algúa, &afsi fe nam fabe ategora donde procede
ambos . f Outro muy notauel fae pela banda do Ori-
ente ao mesmo Oceano, aquechamão de famFrancis
co: cuja boca cftá em dez grãos & hum terço,& fera me
ya legoa de largo . Efterio entra tam foberbo no mar
&com tantafuria,que nam chega a maré aboca, fome
te faz algu tanto reprefar fuás agoas,& dahi três legoas
ao mar fe acha agoa doce . Correfe da boca,do Sul pêra
o Norte : dentro he muito fundo & limpo,& podele na
uegar por cl.lé atefelTenta legoas como jafe nauegou.
E dahi por diâte fe nam pode paflar por respeito de hfu
<„ ;choeira muy grande que ha nefte pafíb,onde cae o pc
fo da agoa de muy alto. E acima defta cachoeira fc mete
o mesmo rio debaixo da terra & vê fair dahi hua legoa:
& quando ha cheas arrebenta por cima&arrafatodaa
terra . Efte rio procede de hú lago muy grande que eftá
inmnurmiii
ggyiMFitOTiiCTiTroiTOffiWmfCTrasEnCTiraMTO^
SA NCTA CRV2.
i©
no intimo da terra,onde affirmao que ha muitas pouoá
çóes, cujos moradores ( íègundo fama) pofluem gran-
des aueres de ouro & pedraria . ^ Outro rio muy grani
de & hum dos mais efpantoíbs do mundo, faepeía mes
ma banda doOriente em trinta & cinco grãos, a que
chamam rio da Prata,o qual entra no Oceano com quo
renta legoas de boca: & he tanto o impetu de agoa do-
ce que traz de todas as vertentes doPerú,queosnaue-
gan ces primeiro no mar bebem fuás agoas , que vejam
a terra donde efte bem lhesprojeede . Duzentas &íeté-
ta legoas porelleacima,eftá edificada hua cidade pouo
adade Caftelhanos^queíe chama Afcençam . Atequi
le nauega porelle^&ainda dahi por diáte muitas legoas.
Nefte rio pela terra dentro íè vem meter outro a q cha-
mãoParagoahi,que também procede do mesmo lago
como o de iam Francisco que atras fica.
^ Alem deftes rios ha outros muitos y que pela cofía fi-
cam, aísi grandes como pequenos, & muitas enfeadas,
bahias,& braços de mar, de que nam quis fazer mença,
porque meu intento nam foy lenam escolher ascòuías
mais notaueis & principaesda terra,& tratallas aqui fo
mente em particular,pera que afsi nam foflè notado de
prolujco & fatisfizeíTe a todos com breuidade.
^Capítulo 3, Das capitanias isrpouoacoes
de Tortuguefesque ha núta
frouincia.
B % Tem
LAVAlVi AVJ ttâ&llvi ia FSl K-VtvYivXIL-lliJll
\^1£ã-Eã>t^--1^-^-l^,l^liã^SlEJ\WifSãilS3[.,ES!EnS3r^3n
fiiajsiiittfiiáf.miariEagarii
HISTORIADA PROVÍNCIA
E M efta prouincia afsi como vay lançada
da linha Equinocial pêra o Sul , oyto capi
tanias pouoadas de Portuguefes,que con-
tem cadahúaem fi, pouco maisoume-
nos,cinquoentaiegoasdecofl:a,Scdemar
caoíehuas das outras per húa linha laçada Leftc Oefte:
& aísi ficam 1 imitadas por eftes termos étre o mar Ocea
no, & a linha darepartiçam geral dos Reis de Portugal
&Caftella. AsquaescapitaniaselReyDomloáo o ter
ceiro, defejoíò de plantar neftas partes a Religiam Chri
ítaã, ordenou em leu tempo, efcoihendo pêra o gouer-
no década húa delias vaflallosfeus de langue Scmere-
cimento, em que cabia efta confiança. Os quaes edifi-
caram fuás pouoações ao longo da cofia nos lugares ma
is conuènientes & accomodados, que lhes pareceo pêra
a viuenda dos moradores . Todas eflarn ja muy pouoa
das de gente, & nas partes mais importantes guarneci-
das de muita & muy grofla artilharia q as defende & af-
feguradosimmigos,alsi da parte domarcomoda ter*
ra ; lunto delias auia muitos índios, quando os Portu-
guefes começaram de as pouoar: mas porque os mes-
mos índios fe leuantauam contra elles & faziam lhes
muitas treições, os gouernadores & capitães da terra di
ílruiramnos poucoa pouco & mataram muitos delles:
outros fugiram pêra o fertão,& aísi ficou a terra deíoceu
pada de gentio ao longo das pouoações. Algíías aldeãs
deites índios ficaram todauia orredor delias , que fam
de piz
I»V*V.44VÍ».4k,í»i,**V4»,-.i»*!.UiViiVAMri*f.!4 4.Vii.WiVi4.VJl1
Jtmiunun
niyi^WTTraTff^ATTATTfryra7,TV\yT*TT^^^
&a
SA-NCTA CIVl
«Fe paz & amigos dos Portuguefcs que habitam cftas cá
pitanias . E pêra que de todas no prefente capitulo faça
mençam,namfarey por ora mais que referir de cámif»
nho os nomes dos primeiros capitães que as conquiftá
rão,& tratar precifamente das pouoaco.es, íitios,& por-
tos onde reíidem os Portuguefes , nomeando cada hua
delias em efpecialaísicomo vão do Norte pêra o Sul ru
maneira feguinte,
f A primeira & mais átigua fe chama Tamaracá, a qual
tomou efte nome dehúa ilha pequena , onde fua poi^o
açameftá fituada . Pcrolopezde Soufa foy o primeiro
que a conquiftou & liuroii dos Françeíesyem cujo po-
der eftaua quando a foy pouoar : efta ilha cm q os mora
dores habitam diuide da terra firme hum braço de mar
quearodea^onde também feajuntam algus rios q vem
doíertao . Eaísi ficam duas barras lançadas cada húapc
ra fua banda , & a ilha em meyo : per hua das quaes en-
tram nauios groífos & de toda forte , & vam ancorar ju
todapouoaçam queeftádahimeyalegoa pouco mais,
ou menos. Também pelaoutra que ficadabandádç*
Norte fe feruem algtías embarcações pequenas, a qual
por cauía de fer baixa nam fofre outras mayores. Defta,
ilha pêra o Norte, té efta capitania terras muy largas &
viçoías,nas quaes ojê em dia eíleueram feitas gre lias fa-
zendas,&os moradores foram em muito maiscrecime
to,& florecéram tanto em prosperidade como em cada
húa das outras, fe o mesmo capitam Pêro lop; z rcíidíu
B 3 nella
L«l*lfl<»ia>tJ>-.AáM41MálfJlWl^ra|fj;
tA^AvJ.XviJ&ija/^iljpax<iiga'i?ajs^li
isrigiiKgiggiístfiiiMiiaiii^
" r- HISTORIA BA PROVÍNCIA
íiclla mais algusannosj&namãdefemparáranotem*
pò que a começou de pouoar.
5 A fegunda capitania que adiante fe feguefc chama
Paranambuco : a qual conquiftou Duarte Coelho, &
edificou fuá principal pouoaçam em hu altoávifta do
manque eftá cinquo legoas defta ilha de Tamaracá,em
altura de oito grãos . Chamafe Olinda, he hua das mais
nobres Ôcpopulofas villas que ha neftas partes- Cin-
quolegoas pela terra dentro eftá outra pouoaçam cha-
mada Igaroçú , que por outro nome fe diz ,a villa dos
Cofmos * E alem dos moradores q habitam eftas villas
ha outros muitos que pelos ingenhos & fazendas eftáo
eípalhados, afsi nefta como nas outras capitanias de q a
terra comarcaá toda eftá pouoada. Efta hehua das me-
lhores terras, & que mais tem realçado os moradores q
todas as outras capitanias dcftaprõuineia: os quaes fo-
ram fempre muy fauorecidos & ajudados dos índios da
terra, de qtieakançáram muitos infinitos eferauoscotn
quegrangeam fuás fazendas. Ea eaufa principal de eila
ir íempre tanto auante no creciméto da gente ,foy por
t efidir continuamente nella o mesmo Capitam q a con
quiftou,& ler mais frequentada de nauios defte Reino
por eftar mais perto dellequecadft hua das outras que
a diante fe íèguem , Hua kgoa da pouoaçam de Olin
<da pêra o Sul eftá hum arrecife ou baixo de pedras,quc
lie o porto onde entram as embarcações . Tem a fet uc-
riapelapraya, & cambem per hum rio pequeno q pafla
'.UV.>V.-1 IT.^LVilr.U;
't.WF.Wr.WKWKWWWI
I*
s anota ciivt :
por junto da mesma pouoaçam.
5 A terceira capitania que a diante fc íeguc,hc a da Bahia
de todos os San<ftos,terradelReynoflofcnhòr:naquaI
refidem oGouernador & Bispo , & Ouuidor geral de
coda a cofta. O primeiro capitam que aconquiftou &
queacomeçou de pouoar,foy Francisco Pereira Cou-?
tinho ; ao qual desbarataram os índios , com a forçada
muy ta guerra que lhe fezeram,a cujo impetu nam po-
de reíiftir , pela multidam dos immigos que entam íc
conjuraram por todas aqucllas partes contra os Por-
tuguefes , Depois difto , tornou a fer reftituida & ou-*
tpâ j/ez pouoada por Thoméde Soula o primeiro Go-,
liernador geral que foy a cftas partes . E daqui por diati
te foram fempreos moradores multiplicando cõ mui-
to acrecentamento de fuás fazendas . E afsihuadasca-
pitanias que agora eftá mais pouoada de Portuguefes
de quantas ha nefta prouincia , he efta da Bahia de to-
dos os San&os. Tem três pouoações muy nobres &
de muitos vezinhos , as quacs eftam diftantes das de
Paranambuco cem legoas, em altura de treze grãos,
A principal onde refidem os do gouerno da terra ÔC
a mais da gente nobre, he a cidade doSaluador. Outra
eftá junto da barraca qual chamarc^villa velha, que foy
a primeira pouoaçam que ouue nefta capitenia. Depois
Thomé dcSoufa fendo gouernador edificou a cidadedo
Saluador mais a diante meyalegoa?por fer lugar mais
B 4 decente
\mt*.mn+m<:+m.-.*.M*Lam.Êriim.iuAjrj+:mrJAà
*iéWAAyjkiyAi^AVAXViAvJlv^^
[l^l^I^I^iaiijraiitf^^I^i^
HíSTOÍlTADA PROVÍNCIA
decente & prptieitofo pêra os moradores da terra 5 Qui
çrolegoas pela cerra dentro eftáoptrajque íe chama Pa-
ripè que támSe cem jurdiçim ibbre li como cada hiu
das outras .Tòdaseftas ppuoaçõeseftão ficundas ao 15
godehuabahia muy grande &fermòfa, onde podem
entrar íeguraméce quaesquer nãos por grandes q íejao:
â qual he três legoas de largo, & nauegaíequinze por ci-
la dentro .■ Tem d erro em íí muitas ilhas de terras muy
fitígulares ; Diuideíc em muitas partes,& tem muitos
braços & enleadas por onde os moradores leferué cm
garços pera Tuas fazendas.
3'À, quarta capitania, que hea dos Ilheos fe deu a lorge
c Figueiredo Corrêa, fidalgo da cafadelRey noflblc-
çKon&pòrfcu m^ndadoafoypouoarhum ioarn Dal
stieida,o qualedrficouíuapouoaçam trinta legoas da
Bahia de todolos Sanclos, cm altura de quatoize grãos
&dous terços . Eftá pouoaçamhe hua viila muy ferino
ía 5ç de muitos Vczinhos,a qual cila em cima de húa h
deira avilta do mar,fituadaao longo de hum rio onde
entram os nauios . Efterio também fe diuide pela terra
dentro em muitas partes junto do qual tem os mora-
dores da terra toda a grangeria de luas fazendas: pera as
cjuaes fe feruem por elle em barcos Ôc almádias comio os
da Bahia de todos os Santos,
«f A quinta capitania a que chamam Porto Seguro,coa
qujftòu Pêro do Campo Tourinho. Tem duas pouci-
açó;s que eftam diftantes da dos Ilheos trinta legoas
cm
lAUft Juaà. «»uuí»,vusu aoBAj
iTxmwfjmw.vww!tMW.VÊ^
SANCTA, ÇRVL t$
cm altura de dezafeis grãos & tneyo: entre as quaes
fe mete hum rio que faz hum arrecife na boca como
enfeada , onde os nauios entram. A principal pouo-
açam eílá íuuada em dous lugares , conuem a íaber^
parte delia em hum tefo foberboque fica lobreo ro-
lo do mar, da banda do Norte, & parte emhuavat
z.ca quê fica pegada com o rio . A outra pouoaçatn
a que chamam Sahfto Amaro , eftá hua legoa defte
rio pêra o Sul . Duas legoas dcfte mesmo arrecife ^
pêra o Noite tftá outro, qúe he o porco, onde en-
trou a frota quando efta prouincia íe descobrio . E
porque entam lhe foy poílo efte nome de Porco fe-
gurò , como a trás deixo declarado, ficou dahi a ca-
piraniacorn o mesmo nome : & por iflb iediz Por-
to Seguro.
5 -A lcxta capitania he a do Spirito San&o , a qual
conquiftou Vafco Fernandes Coucinho . Sua pouoa-
çam eftá íituada em hua ilha pequena , que fica di-
Itante das pouoaçóes de Porco Seguro iellenta legoas
em altura de vinte grãos. Rita ilha jaz dentro de hum
rio muy grande , de cuja barra difta hua legoa pelo
fertam dentro : no qual fe maca infinito peixe, &pe
lo confeguinte na terra infinita caca , de que os mó;
radores continuamente fam muy abadados. E âísi
heefta a mais fértil capitania & melhor prouida de
todos os mantimentos da terra que outra algúa que
aja na cofia.
f A feptima
kA',U^AXvi^UA.^irar^ixc^f^/riir^i;dfrrtif^:
'ifiggaBgiEiigaiiaiEgiiiaiEaiEJtEaiiayigai^^!
1 HISTORIA DA PROVÍNCIA
«f Afcptíma capitania, hc a do Rio de Ianciro:a qual
conquiftou MendeSá,& a força darmas,offerccidoa
muy perigofoscombatcsaliurou dos Francefes que a,
oçcupauam , fendo Goúernador geral deftaspartes.
Tem huapouoaçama que chamam Sam Sebaftiam ]
cidade muy nobre &pouoada de muitos vezinhos , a
qual eftá diftanteda doSpiritu Sanftofetéta&cinquo
legoas em altura de vinte & três grãos .Efta pouoaçam
eftá junto da barra,edificada ao longo de hum braço de
mar: o qual entra fete legoas pela terra dentro, & tem
cinco de trauefla na parte mais larga , & na boca onde
he mais eftreito auerá hum terço de legoa * Nomeyo
defta barra eftá hua lagea que tem cincoenta & íeis bra
ças de comprido , & vinte & féis de largo ; na qual fe po
de fazer hua fortaleza peradefenfam da terra íè coprír.
Efta he hua das mais feguras & melhores barras que ha
neftas partes , pela qual podem quaes quer nãos entrar
&íairatodo tempo fem temor de nenhum perigo. E
afsi as terras que ha nefta capitania^tambem Iam as me
lhores& mais aparelhadas pêra enriquecerem os mera
dores de todas quantas haneftaprouinciar&osquela
forem viuer com efta efperança , nam creyo que fe acha
ràm enganados.
«[A vitima capitania, he a de Sam Vicente, a qual con-
quiftou Martim Afonfode Soulà: tem quatro pouo-
açóes . Duas delias eftam fituadas em hua ilha que
| diuide
llViva ivA«Jtm»im»uii«tm
f,W!7Ti>XT<.yTO?,l
f .W.T.fWTT.-.TT.YT FATTATTAT TATTAT
r.« TAT T.'.r,T)Ty|^
SANCTA CHVL li
diuidehum braço de mar da terra firme £ maneira de
rio • Eftameftas pouoações diftantesdo rio de lanei-
to quorenta& cinco legoas, em altura de vinte & qua-
tro grãos * Efte braço de mar que cèrcà eftailha tem
duas barras cada húa pêra lua parte . Hua delias hc
baixa , Sc nam muito grande , por onde nam po-
dem entrar fenam embarcações pequenas : ao longo
da qual eftá edificada a mais antigua pouoaçam de
todas a que chamam^Sam Vicente . Hua legoa &
meya da outra barra ( que he a principal por onde
entram os nanior grofíbs , & embarcações de toda
maneira que vem 1 efta capitania ) eftá a outra po-
uoaçam chamada Sanélos , onde por refpeito delias
cfcallas , refide o capitam , ou feu logo tente com os
offíciaesdoconfelho&gouerno da terra. Cinco le-
goas pêra o Sul , ha outra pouoaçam a que chamão
Hitanhaém . Outra eftá doze legoas pela terra den-
tro chamadaJSam Paulo, que edificáramos Padres da
Companhia , onde ha muitos vezinhos, & a mayor
parte delles fam nafeidos das índias naturaes da ter-
ra , & filhos de Portuguefes . Também eftà outra
ilha a par defta da banda do Norte , a qual diuideda
terra firme outro braço de mar que fe vem ajuntar
com efte : em cuja barra eftam feitas duas fortalezas,
cada hua de fua banda que defendem efta capitaria
dos índios & coflairos do mar com ârtelharia deque
eftam
•X^VAAV^AVAAViA'.UA.^i:jf»iioi/yiTi^Ar.^K.iiyrt<.A:
sa<!EgiBgiEgiiiiai^Mi^iiiaiEaiSaiEai!!aigaii^iEyiEJiBMiiCTtEJiissrn
1
3
HISTORIA DA PROVÍNCIA
èftarn muy bem apercebidas . Por efta barra fe fer-
iriam antiguamente , que he o lugar por ondecoftu
mauam os immigos de fazer muito damno aos mo
radores»
f Outras muiras pouoaçõcs ha por rodas e fias capi-
tanias, alem deftas de que tratey ,-onde rcfidemmui-
Ntos Portuguefes: dasquaes na^m quis aqui fazer men
çam,pornamfer meu intentar noticia fenamda-
uellasmais afbinaladas/>que iam as que tem offkiaes
e juftiça,&jurdiçamfobreíicomoqtialquervillaoa
cidade deites Reinos.
T Capitulo 4. Dagouermma que os mm*
dores de/ias capitanias tem neíias
fartes,&* a maneira de co» *
mofe bãoem feu modo
de Viuer.
E P O I S que efta prouinda Sanita
Cruzfe começou de pouoarde Portuguc
íes,fempre cfteue inftituidaé huagouer
nança , na.qual afsiftia gouernador geral
•por clRey noflb fenhor cem alçada íòbre
os outros capitães que.refidem em cada capitania , Mas
porque
tnuummimiwiimiMiiiuiiim^BH
li
SANTA CRVZ. tj
porque dehuas a outras ha muita diílancia,& a gente
vay em muito crecimento,reparuofe agora em duas go
uernações,conuem afaber, da capitania de Porco fegu-
ro pêra o Norte fica hua , & da do Spirico Saneio pcra o
Sul fica outra: & em cada hua delias afsifte feugouerna
dor com a mesma alçada . O da banda do Norte refidc
na Bahia de todolos Sanótos , & o da banda do Sul no
Riodelaneiro. Eaísi fica cada humcm meyo defuas
jurdições,pera deíla maneira poderemos moradores
da cerra fer melhor gouernados & á cufta de menos tra-
balho. Evindoaoquecocaaogouernode vida&fu-
ftentaçam deftes moradores , quanto ás cafas em q vi-
nem de cada vez fe vão fazendo mais cuftofas & de me-
lhores edifícios: porque em principio nam auia outras
naterra fe nam de taipa 5c terreas,cubertas fomente co
palma . E agora ha ja muicasfobradadas & de pedra &
cal, telhadas 8c forradas como as defte Reino, das quaes
Ma ruas muy compridas &fcrmofas nasmais daspouo
açoesdequcfizmencam. E afsiantes de muito tépo
(fegundoagente vaicrecendo) feefperaque ajaoutros
muitos edifícios & templos muy fumptuofos comqu-
de todo feaeabe nefta parte a terra de ennobrecer. Os
mais dos moradores que por eftas capitanias eflam efpa
lhadosou quafi todos, tem luas terrasde fefmaria da-
das & repartidas pelos capitães & gouernadores da ter-
ra. E a primeira couía que pretendem acquirir, iam ef-
crauos pêra nellas lhes fazem fuás fazendas : & fehua
peíToa
LVXAf.UAV.Atf.'jLXVlA»«ii..ril .lJ^lIOTf^f^r..^
i
OOAÇOACO AoòACOAÔ&A*» AOÒAOO,
HISTORIA DA PROVÍNCIA
peffba chega na terra a alcançar dous pares/) n mcya dá
ziadelles (ainda que ou tracoufa nam tenha de feu)lo-
go tem remédio pêra poder honradamente fuftétarfua
família .: porque hum lhe pefca,& outro lhe eaça,os ou-
tros lhe eultiuão & grangeão fuás roças>& defta manei-
ra nam fazem os homés despefa cm mantimentos com
feus eícrauos,nem com fuás peflbas , Pois daqui fe pode
infirir quanto mais feram acrecentadas as fazendas da-
quelles iquç teucrem duzétos, trezentos eferauos, como
ha muitos moradores na terra que nam tem menos de
fta contia & dahi pêra cima * Eftes moradores todos pe-
la mayor parte fe tratam muito bem , & folgam de aju-
dar hus aos outros com feus eferauos & fauorecem mui
to os pobres que começam a viuer na terra. Ifto geral-
mente fe coftuma neftas partes ,& fazem outras mui-
tas obras pias, por onde todos tem remédio de vida &
nenhum pobre anda polas portas a mindigar como ne«
ftes Reinos»
qCapit.j, T)m plantas '^mantimentos^ finitas'
que ha m/la prouincia.
AM tantas &tam diuerfasasplantas,frui
tas,& heruas que ha nefta prouincia , de q
fe podiam notar muitas particularidades,
gy que feria coufa infinita efcreuelas aqui to-
das & dar noticia dos efFeclos de cada hua meudaméte.
E por iíío nam farey agora mencam/e nam de alguas é
articular
fMmhT*mifm>mr*im!.-+ iw» »>m ma.-a araa wm^j
iByiBgTvgtCTTvgngfiwiEJBCTrogiiyCT
SANCTA G RVZ. té
particular,principalmctcdaqllas,decuiâ virtude &frui
to participam os Portuguefes. Primeiraméte tratarei da
planta & raiz de q os moradores fazem feus mantimen
tosq lácomememlugardepão. A raiz fe chama Man-
dioca^ á planta de que fe gera, he da altura de humho
me pouco mais ou menos. Efta planta namhe muito
groíTa,& tem muitos nos: quando a queré plantaré al-
gíía roça, corta na Scfazénaem pedaços,osquaes mete
debaixo da terra,depois de culriuada como eftacas,& da
hi tornam arrebentar outras plantas de nono : Secada e-
ftacadeftas cria três ou quatro raizes&dahi pêra cima
(fegundo a virtude da terra e m q fe plantadas quaes poe
noue ou dez meles emfe crianfaluoem Sam Vicente q
põem três annos por caufa da terra fer mais fria. Eftas
raizes a cabo deftetépofefazémuy grades á maneira de
Inhames de S.Thomé, ainda q as mais delias fam com
pridas,&reuoltasdafeiçamdc corno de boy.E depois
de criadas defta maneira,fe logo as nam queré arrancai:
pêra comer,cortãlhe a plãta pelo pé,& afsi eftam eftas ra
izes cinco/èis mefes debaixo da terra em fuaperfeiçam
fem fe danaré:& em S. Vicéte feconferuão vinte, trinta
annos da mesma maneira. E tanto q as arrancam, poé
nas a conir em agoa três quatro dias,& depois de corri-
das, pifam nas muito bem. Feito ifto metem aquella
maífa em huas mangas compridas & eftreicas q fazem
de húas vergas delgadas,tecidas á maneira de cefto:& ali
aefpremem daqlle çumo/le maneira q nam fique dele
nenhua
>áMiirwiB^«'iVAfettra»^^
l&T&ttT&mT&J&UZT>2XLnV3
HISTORIA DA PROVÍNCIA
ncnhuacoufa por esgotar .-porque hetam peçonhen-
to, & em tanto extremo venenofo , que fe húa peflba
ou qualquer outro animal o beber , logo naquelle in-
ítante morrerá . E depois de afsi a terem curada deíb
maneira poem hum alguidar fobre o fogo em que a la-
çam, a qual eftámeixendo húa índia ateque o mesmo
fogo lheacabede gaftaraquella humidade & fique en-
xuta & dispofta pêra fe podercomer , que fera por efpa
ço de meya hora pouco mais ou menos , Efte hc o man
timentoaquechamlo farinha de pao, com que os mo-
radores &gentiodcfta prouincia fe mantém , Ha toda
Uia farinha de duas maneiras; húa íê chama de guerra
& outra fresca , A de guerra fe fazdefta mesma raiz , Sc
deqois de feita fica muito feca,& torrada de maneira q
dura mais de hum anno femfe danar, A fresca he mais
mimofa& de milhorgofto: mas não dura mais que do
us ou três dias,& como pafla dcllesjogo fe corrompe,
Defta mesma Mandioca, fazem outra maneira de mã-
timentosque íèchamáobeijús.osquaes iam de feição
de obrcas,masmaisgroíros1Scaluos,!Scalgúsdelles et
ilendidos da feição de filhos . Deites vfam muito os
moradores da terra (principalmente os da Bahia de to*
dolos Santfosjporquc fam mais íabrofos & de melhor
diiiltao que a farinha.
f Também ha outra çafta de Mandioca que tem diffe-
rente propriedade defb,aque por outro nomechamão
Aipim, da qual fazem hús bolos em algúas capitanias,
que
l».4iru».*».»»,»li,*».**V4fc.4*.Vi*V4J
r*TT.TCT,nTfrf«riWWTATi«r,rATWMw«
'$ SANCTA CR Vi %7
que parecem no fabor que excedem a pão fresco deíle
Reino . O çumo deíla raiz nam he peçonhento ,; como
oqueiaedaoutra,nem fazmal a nenhúaeoufa ainda
quefe beba , Tábem fecome a mesma raiz aíTada co-
mo batata ou inhame: porque de toda maneira feachi
nella muito gofto. Alem deftemantimenco^ha na ter-
ra muito milho zaburro de quefe faz pão muito aluo^
& muito arroz,& muitas fauas dedifferentes caftas, &
outros muitos legumes que abaftam muito aterra*
f Húa planta fe dá também nefta prouíncia/jne íoyéd
ilha de Sam Thomé,com afruita da qual leajudam
muitas peííòasa fuftentar na terra. Efta plantahe muy
tenra & nam muito alta, nam tem ramos fenam buas
foihasque feram féis ou fete palmos de cóprido ; A frui-
rá delia fe chama bananas : parecenfe na íeiçhtn com pc
pinos^&criamfeemcaçhos.-âlgusdellesha tam gran-
des que tem de cento & rincoenta bananas pêra cima*
E muitas vezes he tamanho o pefo delias, que acontece
quebrara plãta pelo meyo .Como fam de vez colhem
eftes cachos, & dali a algas dias amadurecem. Depois
de colhidos , cortam efta planta, porque nam frutifica
mais qne a primeira vez:mas tornam logo a nacer delia
bus filhos que brotam do mesmo pé , de que fe fazem
outros femelhantes . Efta fruita he muy íabroía , & das
boas q ha na terra: tem húa pelle como de fig* ( ainda q
maisdurajaqual lhe lançam fora quando a querem
çomenmas faz damno á faude & caufa feure a quem fe
C desmanda
im«aw»Jw««fr-«y«iM^^
J m\
iimi\sm\w^S^SIIS^wx^w^lT^X'y7,ffi9,T,'nr,t,y,vr^v.T\
HISTORIADA PROVINCIA
«desmanda nella.
•I Huasaruores ha também neítas partes muy altas a ^
chamão Zabucáes : nasquaesfe criam hus vaios tama-
nhos como grandes cocos,quafida feiçam de jarras da
índia. Eíles vafos fam muy duros em gram maneira,
&eftamchcos de huascaftanhas muito doces & fabro-
fas em extremo : & tem as bocas pêra baixo cubertas ca
huas çapadoiras,que parece realmente nam ferem afsi
criadas da natureza >fenam feitas per artificio deindu-
ftria humana. E tanto que as taescaftanhas fam madej
ras, caem elfos çapadoiras>& dali começam as mefmas
caftanhas também a cair pouco a pouco ate nam ficar
íienhúa dentro dos vaíos.
f Outra fruitaha nefta terra muiro melhor>& mais pre
Z*d i dos moradores de todas,que fe cria em hua planta
humilde junto do chão : a qual planta tem huas pencas
como de heruababoíà . A efta fruita chamao Ananazes.
&. nacem como alcachofrcs^os quaes parecem natural
mente pinhas, & fam do mesmo tamanho & algíis ma
yores. Depois que fam maduros^tem hum cheiro muy
fuaue>& coméfe aparados feitos em talhadas . Sam taiu
fabrofos,que a juizo de todos^nam ha fruita nefte Rei-
noqnogofto lhes faça ventagem. Eafsifazem os ma
radoresporelIesmais,& os temem mayoreftima,quc
outro nenhum pomo que aja na terra.
5 Ha outra fruita que nacepelo mato em huas autores
tamanhas como pereiras ,ou macieiras ;a quaihe da fei
cana
**mm.-.-+MM*í>TAÉ,.rM.*vM.av*m*-+Mb-A*M*AT*mMmi*-AmrfA**^a^*m]^Ê^
IiyiCTTOraT«TCTTCTI^WgTCTiraCT^
SA NCTA CftVZ. iS
fam de peros repinaldos,& muito amarella- Âeftafruí
ta chamão Cajus: tem muito çumo$&comeíè pela cal
ma pêra refrescar ^porque hcellade fua natureza mui-
to fria , & de marauilha faz malyainda que íe defmandé
nella. Na ponta de cada pomo deites le cria hum caro
ço tamanho como caftanhadafeiçamdefaua :o qual
mcc primeiro, & vem diante da mesma fruitacomo
fior . Acafcadel!ehcmiiitoamargo{âcmextremo,& a
meolo afifado hc muito quente de íua propriedade^
maisgoftofo que amêndoa.
^ Outras muitas fruitas haneftaprouínciade diueríâs
qualidades comuas a todos ,&fam tantas , que jafe a
cháram pela terra dentro alguas peíToas /as quaes ícíu-
ftentáram com ellas muitos dias íèm outro manti-
mento algum . Eftas que aqui efcreuo , fam as que os
Portuguefestern entre íi em mais eftima,&asmelho
res da terra . Alguas defte Reino fe dam também ne-
íhs partes, conuemafaber, muitos melões, pepinos,
romãs , & figos de muitas caftas : muitas parreiras
que dão vuas duas três vezes no anno , & de toda ou-
tra fruita da terra ha fempre a mesma abundância,
por caufa de namauer la (como digo) frios, que lhes
façam nenhum perjuizo . De cidras , limôes,& la-
ranjas , ha muita infinidade , porque fe dão muiço
na terra eftas aruores de efpinho & multiplicam ma-
is que as outras,
5 Akm das plantas que produzem de ÍI eftas fruitas, &
C 2. mantí-
.a*
àMMà!áa«*mir»a-,iatt»tfA'AV^^
regrar Errara
HISTORIADA PROVÍNCIA
tnjintimcntos que na terra fe comem : ha outras déque
os moradoras fazem fuás fazendas , conuem a faber,
muitas canas daçucre & algodoaes,que he a principal fa
zendaque ha neftas partes, de que todos fe ajudam &
fazé muito proueito em cada húa deftas capitanias, ef-
pecialméte nade Paranambuco,quefam feitos pertode
trinta engenhos, ScnadaBahia do Saluador quaíi ou-
tros tantos, donde ic eira cada hum anno grande quan-
tidade daçucares, & fe dá infinito algodam,& mais fem
cõparaçam q em nenhua das outras . Também ha mui
to paobrafil neftas capitanias de que os mesmos mora-
dores alcançam grande proueito : o qual pao fe mofíra
claro, fer produzido da quentura do Sol , & criado corri
a influencia de feusrayos, porque nam íè achafenam
debaixo da Torridazona :&alsfquátomais perco cfti
da linha Equinocial, taco he mais fino & de melhor tia
ta . Eeftaheacaufaporqueonamhanacapitaniade S»
Vicente, nem dahi pêra o Sul.
^ Hum certo género de aruores ha também pelo mata
dêtro na capitania de Paranambuco a que chamam Co
pahíbasdeq letira balfamo moy faluufero& prouei-
toíbem extremo pêra infirmidadesde muitas maneí-
ras,principalmente nas que procedem de frialdade cali-
fa grandes effeébos & tira todas as dores por graues q fe-
jam em muito breue clpaço. Pêra feridas ou quaesqr
cimas chagas,tem a mesma virtuderasquaes tantoque
cqmelle lhe acodem, faram m uy deprefla, & tira os b-
nae*
MUU A.VA. JL3U A>u--a'^TjtA'««.»A'a.f" 'MM'— 11 IT|
rx.%TT.%Tr.-.Ti
S ANCTA CRV2. 19
haes de maneira, q de marauilha fe enxerga onde cfte-
ueramj&niftofazventagem a todas as outras mediei-
cinas.Efteolconamfeacha todo anno perfeitamente
neftasaruores ,nem procuram ir buscalo ,(cnam no c-
ftio, q hc o tempo em que afsinaladamentc o crião . E
quando querem tiralo, dam certos golpes ou furos no
tronco delias, pelos quaes pouco a pouco eftam eftilã
dodoamagoefte licor preciofo. Porénam (cacha era
todas eítas amores ,íènám em algúas a que por cfte ref-
peito dão nome de fêmeas: & as outras que carece dellc
chamam machos,&nifto fomente feconl eccadifferé
ça deftes dous géneros : q na proporçam & femelhança
nam difFerem nada húas das outras . As mais delias fe a
cham roçadas dos animaesq per inftinto natural quan
do fe fentem feridos, ou mordidos de algfia fera , as vão
buscar pêra remédio de fuás infermidades,
tf Outras amores differentesdeftas, ha na capitania dos
ilheos^&nado Spiritu SanéloaquechamãoCaborahí
bas,de q també jc tira outro balfamo: o qual fae da cas-
ca da mesma aruore;&cheirafuauifsimamétc. Tambe
aptoueica pêra as mesmas infermidâdcs^&aquellcs que
o alcançam téno cm grande eítima & vr ndeno por mui
to preço: porq alem de as tacs aruores ft lé poucas,cotrc
muito rilcoaspcíloasq ovam buscar por cauía dosimi
gosque audam lempre naquclla parte emboscados pe-
lo mato,& nam perdoam a quantos acham,
f Também ha húa certa aruore na capitania de S. Vice
C 3 te que
ià!S±VSAVSAA!JlA!>li.'S±L.4MIC^m^
■ -
M^BraBMSÍg^li^HIBÍfflMRifea^tBMfl^^^
HISTORIADA PROVÍNCIA
te que fe diz pela linguá dos índios Obiri paramaçacij q
quer dizer pao pêra in ftrmidades:com o leite da qual íb
mécecp três gous.purgahuapeíroa por baixo & porci-
magrádemente.E fe tomar quantidade de hua cafca de
noz, morrerá fem nenhua rerniíTatm
f Doutras plantas Scheruas^nani dam frui to, nem fe
fabe o pêra q preftam , fe podia efcreuer muitas coufas
de que aqui nam faço mençam,porq meu ínten^não
foy lenam dar noticia(como ja diíTeJ deitas de cujo frui
tofeaproueitam os moradores da terra. Somente tra-
carey dehua muy nojtaue^cujaqualidadefabida creyo
cj em toda parte caulàrá grade efpanto. Chamafe herua
viua, & tem algua femelhança de fyluam macho . Quá
doalguemlhe toca com as máoSj.ou com qualquer ou-
tra coula que feja, naquelle moméco fe encolhe & mur
cha de mancira,que parece criatura ferríi tiuaque fe ano
ja & recebe efcandalo com aqlle tocamento. E depois
queaíroifega^omo coufa jaefquecidadefteagrauo5tor
na logo pouco a pouco aeftenderfe ?ate ficar outra vez
tam rubufh & verde como dates . Efta planta deue ter
algua virtude muy grande a nos encuberta,cujo efle&o
namfera pela ventura de menos admiraçam. Poiq fa-
bemosde todas as heruas que Deos criou , terçada hua
particular virtude com que fkeífem diuerlas operações
naquellas coulàs peracuja vdlidade foram criadas: qua-
to maiscftaaqa natureza niftocantoquisalsinalar^dí
dolhe hu ú eftranho fer, & diffcréce de todas as outras.
5 Capituío.
i».»«™ «w it.mm».*k.«iw <wm».mm
uy,B»wra7i
Fr/.TT..7T/.TT/.TrAyT.'.Tr.-.TT.VTT.VTT.'.TTATT.-.TT.?ryATrAlT.%TT..JtO^
SANCTA CRVZ. SI
f Crf^/f. £. Dos-unimaes & bkbosVcmnofos
que -bane/la pronincia.
Omo cila prouinciafejatam grande, & a
mayor parte delia inhabitada & chea-de ai
tifiimosaruorcdos & efpefíbs matos \ na
he defpantar que aja nelía muita diuerfida
dê de animacs;& 1 i hes muy feros & vene
nofos: pois cá encre nòs,com fer a terra ja iam cukiuada
& pofluida detantagenté^aindafe criam em brenhas
cobras muy grandes de que íè contam cúiáâP muy no-
taueis , & outros bichos Ãcanimaes muy danofos , efpat
zidos por charnecas &matos3aque oshoméscom le-
rem, tan tos & matarem ícnipre nellcs, nam podem aca
bar de dar fim como (abemos; Quanto maisnefta pro
uixicia, onde os climas & qualidades dosares terreftes,
namfam menos diípoflos pêra osgerarern,doqa terra
em fi; pelos muitos matos que digo,âccomodâda pêra
os criar . Porem de quanta immundícia & variedade de
animais por ella eípaihou a natureza, nam auiá la ne-
nhus domefticos, quando começaram os Portugue-
ícg de a pouoar . Mas depois que aterra foydrllesco
nhecida , & vierama entender o proueito da criaçatn
que nefta parte podiam alcançar , começáiamlhe a
leuar da ilha do Cabo verde cauallos & cgoas.,de
que agora ha ja grande criaçam em. todas as capi-
tanias deíía prouincia . Eaísí ha também grande cop?a
G 4 de gado
wny.*jfaiiwif.TUiv«afM*f«jM*af^
iAfMÍ'^Ãf.'XÃ^lBía'Ba'I4M'KMft^VBiPBSt,
{^EgifigiBaiii3i^aiBaitaii^igaiggit^ifa)i8aiEai^3^B«!
HISTORTA DA PROVÍNCIA
dc gado q da mesma ilhafoy leuado a eftas partes,prin-
cipalmente do vacum ha muita abundância: oquaipe
los paftos ferem muitos, vay fempreem grade crecimé-
to.Os outros animaesque na terra fe acharam , todos
fam brauos de natureza, & algíis eftranhos nunqua vi-
dos cm outras partes.dos quaes darey aqui logo noticia
começando primeiraméte por aquellesque na terra íè
comem, de cuja carne os moradores fam muy abada-
dos em todas as capitanias.
f Ha muitos veados,& muita foma dc porcos de diucr-
fascaftas , conuemafaber, ha montefes como os defta
terra tic outros mais pequenos que tem oembigo nas
coftas,deqfc mata na terra grande quantidade * E ou-
tros q comem & criam em terra,& andam debaixo da-
goao tempo quequeremraos quaes, como corram pou
coporcaufade terem os pés compridos, & as mãos cur
tas, prouco a natureza de maneira, que podeflem con
feruar a vida debaixo da mesmaagoa, aonde logo feia
çamdemergulho,tantoqvemgente,ou qualqucrou
tra coufa de que íè temam . E aísi ácarne deftes como a
dos outros,he muito fabrofa & tam fadia que fe man-
da dar aos infermos , porque pêra qualquer doença hc
| proueitofa & nam faz mal a nenhúa peííba.
y Também ha hús animaes na tcrra,aq chamam Antas
que fam da feiçam dc m ulas, mas na m tam grandes, &
tem o focinho mais delgado &hu beiço cõprido á ma-
neira de tróba . As orelhas fam redondas & o rabo nam
muita
1
i»vJ^».>.*«»»,»Mtvtt.i.M»w>.a»aMi.^^ui..atui«UM..^.0..^..J.....,.u..u«»iJ|
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3?
SANCTA CRVZ.
muito comptido:3dàm cinzentas pelo corpo, Scbracas
pela barriga . E ítas Antas nam faem a pafcer fenam de-
noite,& tanto q amanhece , metemfe em algus brejos*
ou na parte mais fecreta que acham,& ali eftam o dia to
do , eícondidas como aues noturnas a que a luz do dia
he odioía,ate que anoitecendo, tornam outra vez aíàir
& apafcer por onde querem como he feu coftume . A
carne deftesanimaes, teofaborcomode vaca, da qual
parece que fenam differença coufaalgua.
% Outros animaes ha a que charnão Cotias, que íàm do
tamanho de lebrcs:& quafi tem a mesma femelháça , Sc
fabor . Eftas Cotias fam ruiuas, & tem as orelhas peque
nas,& o rabo tam curto que quafi fe nám enxerga.
5 Ha também outros mayores, a que chamam Pacas, q
tem o focinho redondo,& quafi da feiçam de gato,& o
rabo como o da Cotia . Sam pardas & malhadas de piti
tas brancas por todo corpo. Quando querem guiíallas
pêra comer,pelamnas como lei tam,& nam nasesfolão,
porque tem hum coiro muy tenro & fabro(b,& a carne
tambéhe muito goftofa,&das melhores q ha na terra.
^ Outros ha também neftas partes muito pêra notar,&
ma;s fora da com um femelhança dos outros animaes(a
meu juizo)q quantos ategorafe té vifto . Chamãolhcs
Tatiís,& fam quafi tamanhos como leitões : tem hum
calco como de cágado,o qual he repartido em muitas ju
tas como laminas & proporcionado de maneira, q pare
ce tocalméte hu cauailç armado.Tem hú rabo cõpripo
sod©
IA AMA AfAàAViA AYÀ AVU 1','ilvi I&l 1*1 IHil /r.l'f«ai»>l'l..l Mi.\ 't!?í
ivan&Ksxii&i^iw^t^Wii&Maii&tWtWÊ^ifiinBm
HISTORIA DA PROVÍNCIA
eodo cubertodo mesmo cafco: o focinho hc com o de
Ieitao,asndaque mais delgado algum tanto, & nam bo-
.ta mais fora do cafco que a cabeça. Tem as pernas bai-
xas^ criam fe em copas como coelhos. A carne deites
animaeshea melhor & a maiseftimadaq hanefta ter-
ra,^ tem o íãbor.quafí como de galinha.
4 Ha também coelhos como os de cada nofià patria,de
cujo parecer nam differcmcoufaalgúa..
f Finalmente que defta & de toda a mais caça de que 3
cima tracey, participam (como digo j rodos os morado
res,&matafe muita dellaá eufta de pouco trabalho em
toda a parte que querem: porque nam ha la impedimé
to de coutadas como neíies Reinos, &húfò índio, ba-
fia (Te hç bom caçador) a fu (tentar húa caía de carne do
mato: ao qual nam cfcapahum dia porouEro,quenam
mate porco ou vçado,ou qualqueroutroanimal deites
dequefízmeneam,
f Outros animaes ha nefta prauincia muy fcros,& per*
judiciaes a toda efta caça,& ao gado dos moradores: aos
qúaeschamãoTígreSjaindaque na terra a mais da gen
teosnomeaporOnças:masalgúaspeflbasqos conhe-
cem & os viram em ou eras partes, a ffirmáo q fam Ti-
gres . Eíksanimaes parecéfe naturalmétecom gatos ,3c
nam differem dcllesem outra coufa.-faluo na grandeza
do corpo, porque algús fam ramanhoscomo bezerros,
& outros mais pequenos . Temo cabello diuidido em
Varias & difthuas cores, conuéafaber, em pintas braças,
pardas,
i 1V« l»T»UIIM1«K<lf.»MIH«
>ft.«Ar.^v4A.1i«.v4*v«v.'iMUv.av..ti
............... .......... 1 1^1
rTATTATTP.TJWTOX.^ir^
S A NCT A C1VZ. » %
pardas,& pretas. Como fe acham famintos, entram nos
curraes dogado,& ma tão muitas vitellas & nouilhos q
vão comer ao mato , Sco mesmo fazem a todo animal
q podem alcançar . E pelo confeguinte quando íe vem
perfeguidosdafome,també cometem aos homés:&ne
fta parte famtam oufados,quejaaconteceotreparíehu
índio a hua aruore por fe liurar de hú deftes animaes , q
o hiafeguindo, &pôrfe o mesmo Tigre ao pé da aruo-
re, nam bailando a eípantalo algua géte que acudio da
pouoaçam aos gritos do índio, antes a todos os medos,
íe deixou eftar muito feguro guardando faâ prefa,ateq
fendo noite fe tornaram outra vez,fcmouíarem de lhe
fazer nenhúaoffenfa, dizendo ao índio quefe deixafTe
eftar,queellefeenfadariadeoefpcrar. E quãdoveope
la manhaa( ou porque o índio fe quis decer parecendo-
lhe que o Tigre era ja ido, ou por acertar de cair per alga
delàftre,ou peia via qfoííe) nam fe achou ahi mais del-
le que os oíTos . Porem pelo contrario, quando eftão far
tos, fammiiycobardes,&tampuííÍanimes,q qualquer
cão que remete a elles^aftaafazelíos fugin&alguas ve
zes acoíTados do medo, fe trepam a hua aruore , & ali íe
deixão matarás frechadas fem nenhua refiftécia . Enfim
queafarturafuperfiua,namfomenceapaga aprudecia,
afortalezadoanimo,&a viueza do ingenhoao home:
mas ainda aos brutos animaes inabilita & faz incapa-
zes de vfarem de luas forças naturaes,pofto q tenham
iiecefsidade de as exercitáre pêra defeaíam de fua vida.
| Outro
tff*f«T*>«fcyi
JSSXirSXiUAK.UAfSXL.lMMIMKJUK^XMgi
HISTORIADA PROVÍNCIA
f Outro género de animaes ha na terra,a q chamSo Ce j
rigoês,q Iam pardos & quafi tamanhos como rapofas:
osquaes té hua abertura na barriga ao coprido de ma-
neira q de cada banda lhes fica hu bo!fo,onde trazem os
filhos metidos . E cada filho tem fua teca pegada na bo
^daquala nam tiram nunquaateq fe acabam decíi-
ar. Deftes animaes feaffirmaq nam concebem né ge-
ram os filhos dentro da barriga fenam em aquellcs boi
fos^orquchunquadequantosíeromáramrçachouai
gum prenhe , Ealem difto ha outras conjecturas muy
prouaucis?por onde fe tem por impofsiuel parirê os taes
filhos, como todos os outros animaes( fegundo ordem
de natureza) parem ps feus,
1 Hú certo animal fe acha também neflas partes, a que
çhamão Perguiçafq he pouco mais, ou meno$ do tam*
íiho deftesjo qual cem hu rofto feo,& huas vnhas mui-
to compridas quafi como dedos , Tem hua gadelha gr 5
de no toutiço q lhe cobre o pcfcoço , & anda fempre c6
a barriga lançada pelo chá/emnunqua le leuanrarépé
como os outros animaes : & afsi fe moue có palíos cam
\agaroíos?que ainda que ande quinze dias acurado,náo
Vencerá diílançia dehu tiro de pedra , Ofeu nuti men-
to, he folhas de amores & encima delias anda o mais do
teporaonde pelo menos ha mifterdousdias perafobir,
í$ç dous pa deçen E pcílo q o mace có pãcadas,né q o píi
ga r u crus animaes, ná fe menea hua hora mais q outra,
% Outro geneio de animais ha na terra a que chamam
Tamendpás,
'■—»■•-»»■—' -.-■«■.- ^---j»»™ -^-^ >i----» «i>» mrtf*m.vmmft,-A: m..rm».-i.Tmà
xsnssnwnsrTarTssrcsrr
iSANCTA CRVZ. n
Tamedoás,q feram tamanhos como carncirós.-osquaes
fam pardos,& tem hum focinho muito cóprido & dei*
gado pêra baixo: a boca nam tem rasgada como ados
outros animaes , & he tam pequena, que efcaflamentc
caberam por elladous dedos. Tem húalingua muita
direita & quafi de três palmos em comprido". As fême-
as tem duas tetas no peito como de molher,& o vbre la
çado em cima do pefcoço entre as pás, donde lhes decé
o leite às mesmas tetas com que criamos filhos. Eafsi
tem mais cada húdelles duas vnhasém cada mão tam
compi idas como grandes dedos, largas á maneira dé ef-
còuparo. Também pelo confeguinte tem hu rabo muy
cheo de ledas Sc quafi cam compridas como as de hum
cauallo Todos clles extremos que fe acham neftes aní
mães, fàm necdlarios pêra cõfcruaçam de fuá vida : por
que nam comem outra couía fenam formigas . E como
iftoafsifeja3vãofe comaqllasvnhas aarranhar nos for
migueiros onde as ha: &,tanto queas tem agrauadas,lá
çam a linguafora,& poemnaali naqlla parte ondearfy
nháram, a qual como fe enche delias, recolhem pêra dé
tro da boca, & tantas vezes fazem ifto,ate que fe acabão
de fartar .E quado fe querem agafalhar, ou efeonder de
algíia coud,leuan tam aquelle rabo, & lançam no por ci
ma de Ci , debaixo de cujas fedas ficam todos cubertos
fem fe enxergar dellcs coufaalgua.
^ Bogios ha na terra muitos & de muitas cartas como ja
fe fabe ; 5c por ferem tam conhecidos em toda aparte,
não
M
tinare«WAAyAj«ajmAWA».aA^^^
HISTORIA DA PROVÍNCIA
Ssmjpíirticularizarcyciqui fuás propriedades tanto por
extenfo. Somente tratarey em breues palauras algua
coufàdcftesde que particularmente entre os outros fc
pode fazer mençam.
f Hahusruyuosnãomuirograndesquc derramam de
'fihu cheiro muyfuauc a toda peíToa que a ellesfe che-
ga^ íè os tratam com as mãos, ou fc acertam de fuarfi
cão muito mais odoríferos & alcança o cheiro a todos
os circundantes. Defles ha muy poucos na terra,&nao
fe acham fenam pelo íèrtam dentro muito longe,
f Outros ha pretos mayores que eftes , que tem barba
como homem; os quaesfam tam atrcuidos^que mui-
tas vezes acótece frecharem os Indiosalgus, & dles tira
rem as frechas do corpo com fuás próprias maos,& tor-
narem aarremeíTallas a que lhes aciror . Eftes fam muy
brauos de fua natureza & mais efquiuos de todos quan
toshaneftas partes,
f Ha também hus pequeninos pela cofta de duas cartas
pouco mayoresquedoninhas,a que comumente cha-
mam Sagoís,conuem aíabe^hahúsjouros^outros
pardos . Qs loures tem hum cabello muito fino > & na
lemelhança do vuko & feiçam do corpo quafi fe quere
parecer cem lião.-fam muito fermcfcs^&nam oshafe
mm no rio de íaneiro . Os pardos fe acham dahi pêra o
Norte em todas as mais capitanias . Também fam mui
toapraziueis;masnamtam alegres ávirta como eftes.
E alsi hus como outros, fam tam mimofos& delicados
de fua natureza, que como os tiram da pátria & os em-
. 1V1 Í.-.-J» *.-.T* lVAt'.'AAl'iiUli
S ANCT A C RVZ. *4
barcam perã eíte Reino, tanto que chegao a outros ares
mais ftios quaíi todos morrem no mar,& nam efcapa íc
nam algum de grande marauilha.
tf Hatíbem pelo matodentro cobras muygrãdes,& de
muitas caftas,a q os índios dam diuerfos nomes confor
me a fuás propriedades. Húas ha na terra tão disformes .
de grades,^ engole hu veado , ou qualqr outro animal
iemelhãte,todo inteiro. E iílo m m he muito pêra efpã-
tar,pois vemos q nefta noíía pátria ha oje em dia cobras
bé pequenas q engolem hua lcbic ou coelho da mesma
imaeira ,tédo hu colo q á vifta parece pouco mais grof-
foqhúdcdor&quandové a engolir cites animaes, alar
gafe, 3c dá de íidemaneira^q paílampordlc inteiros,5c
afsi os eftam foruedoate os acabaré de meter no bucho,
como entre nós he notório .Quáto maiseftoutras decj
trato,q por razão defuagrmdeza fica parecendo a que
nas viomenosdifficultofo,engolité qualquer animai
da terra por grande que feja
^Outras ha dou tra eafta difFerétc,n£o tam grades como
eftas:mas mais venenofas.-as quaes tem na póta do rabo
hua coufa q íòa quafi como cafcauel5& por onde quero
vão fempre andam rogindo,& os q as ouué tem cui Ja-
do de feguardaré delias. Alem deftas ha outras muitas
na terra doutras cartas diuerías(q aqui nam refiro por
efcufarprolixidade)as quaes pela mayor parte fam ta?n
nociuas & peçonhétas(efpecialmête huas a q chama Ge
rarácasjq fe acerta de morder alguapeífoa demaràui
lha eícapa, 3c o mais q dura íàm vinte & quatro horas>
mi&m.WitssiwimrEXiWEaiTaiitBn
I
. - HISTORIA DA TROVINCIA
f Também ha lagartos m uy grades pelas lagoas 8c rios
deagoa doce, cujos tefticuloscheiráo mclhorque almis
quere:&a qualquer roupaque os chegam, fica o cheiro
pegado por muitos dias,
f Outros muitos animaes & bichos venenofos ha nefla
prouinçia de querjam trato, osquaesfam tantos em tã
ta abundância, que feria hiftoria muy cóprida nomca-
lpsaquitodos,&; tratar particularmente da natureza de
cada hum,auendo( como digo) infinidade delles ne-
íraspartesraondepeladispoficam daterra&dos climas
que a fenhoream , nam pode deixar de osauer. Porque
como os ventos que procedem da mesma terra, fe tor-
nem inficionados das podridões das heruas,mato$&a-
lagadiços.geranfecom ainfluencia do Sol que niftocõ
corre muitos ôcmuypeçonhentos, quepertoda a cerra
eftáefparzidosr&a eftacau fale criam & acham nas par-
tes maritimas,& pelo fertam dentro infinitos da manei
ra que digo.
f Capitulo 7. Das aues que h4
nata prouinçia.
Ntre todas as coufas deque na prefente hí
ftoria fe pôde fazer mençam, a que mais a
praziuel &fermofa fe offereçe a vifta hu-
mana, he a grande variedade das finas & a
legres cores das muitas aues qnefta prouinçia íe crião
as quaes
ttUfrmmLiM. -»~- -.i-— mn.Tm m.^-~ m*-*m. -y ■•
t^>-^»ft-*fc-.T«<a»«oKaaMaM^^ftTafc^Mmft^^^jk'wa^aMm».M>fk-AMi'A*a-ji»M«ifti»*it'u,«»iaiiwiJi
SANCTA CRVZ. i|
ás quães por ferem tam diucríãs cm tanta quantidade/
mm tratareyfcnam fomente daquellas de que fe pode
nocaralguacouía^&q na terra fam mais cílimadas dos
Portugucfes &lndiosquehabitam cftas partes.
^Haneftaprouíncíamuicasaucs de rapina muyfermo!
ias Sc de varias caftas, conuemafaber, AguiaSjAçorcs^
Gauiães,& outras doutros géneros diucrfos 5c cores dif
£crentcs,quc também tem a mesma propriedade • As
Àgu ias í am muy grades ôc forço ih: & aísi remetem co
tanta fúria a qualquer aue^ou anima! que querem pre-
ar,que âs vezes acontece neftas partes virem alguas tatu
defatinadasfeguindoápreía, que marram nas caías dos
moradores^ ali caem a víftadagétcíêmmais fepode
ftm leuantar. ©s índios da terra as coftumao tomar
cmíeusninhosquando fam pequenas 96c criãnas cm
húasçorças,pera depois de grandes fcaprouci tarem dai
pe nnas em íuas galátarias acoft umadas. Os Açores fam
çomoos de ca, ainda que ha hum certo género dellesq
tem os pês todos vellofos,& tam cubertos de pena que
efcaífamente fe lhes enxergam as vnhas. Eftes fam mui
to ligeiros «Sc de marauilha lhe efçapa aue ,ou qualquer
outra cacaa q remerarn.Os Gauiáes também lâm mui
deítros & forçolos; efpecialmente hus pequenos como
cfmerilhóesem lua quantidade ofam tanto^ue reme
tem a húa perdizóc a íeuam nas vnhas pêra onde querc.
E juntamente fam tam atreuidos,que muitas vezesa-,
????^^firH?f5 aqualqucr auc ôcapanhala danerca
k O gente
J§i HISTORIA DA PROVINCtS
gente (em fe quererem retirar nem Urgala por muito q
oáefpantem. As outras aues que na terra fe comem,&
de que os moradores fe aproueitam iam as feguintes.
5 Ha hum certo género delias, a quechamão Macuca-
goâs, que íâm pretas & mayores que galinhas : asquacs
tem tresordésdetitelas,íam muy gordas & tenras ,&
áfsi os moradores as tem em muita eftima:porque fani
cilas muito íabroías & mais que outras alguas que en-
tre nôsfe comam.
^Também ha outras quaíí tamanhas como cftas,a que
çhamão Iaciís,& nós lhe chamamos galinhas do mato.
Satp pardas & pretas^ tem hum circulo branco na ca-
beça & o peícoço vermelho ,Matanfena terra muitas
dellas,& pelo confeguinte iam muy fabrofas & das me
lhore$ que ha no mato. Ha també na terra muitas per-
dÍ£es.,poíBba$,& rolas como as defte Reino , & muitos
patos âcadés braoas pelaslagoas& rios deita cofta:&oi*
trás muitas aues de ditferentes caftas, que nam fàm me
rk>P;&broías &fadias3queas melhores que câentre nos
ff cornem, Sck temem mais efíima.
f Papagayos ha nelas partes m tiitos ác diueríâs caíías,
6 muy fei mofoSjComo câíe vem algírs por experiécia.
Os melhore&de todos,& q rnais ura mente feaehão na
terraifamhusgràEdes^mayoresqaçoies^aqcha
Anapurús . Eftes papagayos fam vadados de muitas a>
rcs,&criaiiíè muito longe pelofertam dentFo:&depa
Is q qs tomao vem afow domeftieos q poem onos c
cala,
: SANCTÀ CRVZ. í'ê
Êâía &âccomôdaníc maisâconucrfaçam da gete q ou
tra qualquer aue que aja, por maisdomcítica& maníà
cjucleja.EporiíTbfam eidos na terra cm tanta eftima,q
Vai cada hum entre os índios dou$tresefcrauos:& aíst
es Portuguefes que os alcançam os tem na mesma cfti
fna: porquefam cllesalem diííò miifto bcllos,& veíli-
dos como digo de cores mui alegres & tam finas,q exec
dem na fermoíura a todas quatas aues ha neftas partes.
Ha outros quaíí do tamanho deftes a que chamao Ca-
nindêsque iam todos azues: íâluo nas alas que tem ai-*
guas pennasamarellas. Também iam muito fermoíòs
Sc cftimadoscm grande preço detodapefroàqueosai
cança /Também iê acham outros do mesmo tamanho
peio fertam dentro^a que chamao Araras, os quaesíàtn
vermelhos , íemeados de alguas penhas amarellas , 6c
tem as aias azuis & hum rabo muito comprido &fer-
moíb.Os outros mais pequenos , que mais façilmen-»
te faliam & melhor de todos/am aquelles a que na ter-
ra cqmmunmente chamam papagayos verdadeiros.
Os quae$ trazem os íiidios do íérram a vender aos Por-
tugueíes a troco de rclgates . Eftes fam pouco mais,"
ou menos do tamanho de pombas, verdes claros , Ôc
tem a cabeça quafi toda amarelia , & os encontros
das alas vermelhos . Outro género delles ha pela co-
fia entre os Portugueíès do tamanho deftes , a que
chamam Concas : õs quaes fam veftidos de hua
penna verde tfçura , W tetp a cabeça azul de cor
D % deros»
i*fi'*^Y^a.v*mr.-AJwaaM*iKaMM»Av^^y,
kjBSMÊmif^âiíZK&í&xi&vusKV^EmtimmíiE&im
«r HISTORIA DA. PROVÍNCIA
ác rofmaninho. Deftes papagaios ha na terra multa ijti
tidade do qcâentre nos ha degralhas,ou deftorninhòs
Scnarníarn tamcílimadoscomo os outros, porá ga*
zeãomuito,&:alemdiírofaIamdiííicultofamente&i
eufta de muita induftria. Mas quando vem a falar,paf-
íàm pelos outros &fazemlhes nefta parte muita venta
gem.E por iiTo os índios da terra coftumáo depenar ai
gús cm quanto iam nouos,& tingilos com o fangue de
híías certas raás,com outras mifturas que lhe ajuntamt
& depois que fe tornam a cobrir de pena ficam nç mais
nem menos da cor dos verdadeiros:& aísr acõtece mui*
tas vezes enganarê com clles a algúas peííòas vendendo
Jfios por taes. Ha também huspequeninosquevem do
fertão, pouco mayores que pardaes^a que chamáo Tu-
yns:aos quaes veftioa natureza de híia pena verde mui
to fina fem outra nenhua mefiura,& tê o bico & as per
nas brancas^Sc hum rabo muito comprido . Eftes tam-
bém falam & fam muito fermoíbs &apraziueíse eftre
mo. Outros ha pela coita tamanhos como melros, a q
chamao Marca náos: os quaes tem a cabeça grade & hu
bico mui to grofto:tambem iam verdes & failáo como»
cada hum dos o u tros*
f Al^uasauesnotaueis ha também neííaspartcs afora
cftas que tenho refuido,deque tãbem farey menção,,
6c em efpecial tratarey logo de huas marítimas a qcha-
mão Goarásrasquaes feram pouco maisou menos da
tamanhodegayuotas.Aprimara penadeq anature-
lft<âM4A.4*.V44VJV.'l M.V* M
SA NCTA CRVZ, %7
za as veftc, hc branca fem nenhua miftura , & muy fina
cm extremo. E por espaço de dousannos pouco mais
ou menos a mudão,& tornalhes a nacer outra parda tl-
bé muito fina Tem outra nenhua miftura . E pelo mes-
mo tempo a diãte a tornam a mudar, & ficam vertidas
de hua muito preta diftinta de toda outra cor* Depois
dahi a certo tempo pelo confeguinte a mudam, &tor-
naníe a cobrir doutra muy vermelha, & tanto, como o
mais fino & puro eram efim que no mundo fe pode ven
& nefta acabam feus dias.
fHuas certas aues íe acham també na capitania de Pa-
ranambuco pela terra dentro mayorcs duas vezes q ga-
los do Perii : as quaes iam pardas, & tem na cabeça a ci-
ma do bico, hum esporam muito agudo como corno^
variado de branco & pardo escuro,quafi docomprime-
to de hum paímo,& três femelhantes a efte em cada a-
fa, algum tanto mais pequenos, conuemafaber,hus nos
encontros, outros nas juntas do meyo,outros nas pon-
tas das mesmas aias . Eftas aues tem o bico como de A-
guia,&os pés groíTos & muito compridos. Nosgiolhos
tem hus calios tamanhos como grandes punhos. Quan
do pelejam com outrasauesviranfedecoftas,&afsi ièa
judam de todas eftas armas que a natureza lhes deu pê-
ra íua defeníàm.
^ Outras aues ha também neftas partes cujo nome a to
doscáhe notório: as quaes ainda que tenham mais offi
cio de animaes terreftes , que de aues pela razam que
D 3 logo
iAViAV^MUA^XVlX^l/^Ilil.llvafttlIC»!^^1]
'^atgT^^^l^V^T^t^TATTATTy^r/ITy.TT.qT/.TT
1
HISTORIADA PROVÍNCIA
logo direy, tòdauia por -fere realmente aues de que fe po
de efcreuer,& terem a mesma íenielhança, nam deixa-
reydefazer mençam delias como de cada hu^das ou-
tras. Chamanfe Héniasyasquaes teram tanta carne co-
mo hu grande carneiro3& tem as pernas tam grandesq
fam quafi ate os encõtros das aias da altura de hú home,
O pescoço he muy comprido em extrcmo,& tem a ca-
beça nem mais ne menos como de pata: íàm pardas,brã
cas,& pretas^ variadas peio corpo de huas pen-nas mui
fermoías que cá entre nós coftumáo feruir nas gorras &
chapeos de peflbas galantes &queprofefíam a arte mi
litar . Eftâs aues paícem heruas como qualquer outro a
nimal do campo,& nunqua fe leuantam da terra , nem
voão como as ou trás, fomente abrem asaías&co cilas
vão ferindo oarao longo da mesma terrar&afsi nfiqua
andam fenam em campinas onde fe achem dtfcmpedi
das de matos &aruoredos> pêra juntamente poderem
correr & voar da maneira que digo.
^ Dou trás infinitas aues que ha s cilas partes, a que a na
turezaveílio de muitas & muy finas cores, pudera tam
bem aaui fazer mençam: mas como meu intento prin
cipal, nam foy na prefente hiftoria fenam fer breue , &
fugir decoufasem que pudcíTeíèr notado de proluxo
dos pouco curiofos (corno ja tenho dito)quisfomen*
te particularizar cftas mais notaueis ,& paliar com fi-
lencio por todas as outras , de que fe deue fazer menos
cafo,
f CapúS.
l».í».»»^*».i».-.U»V*V.l»VJ».Vil.
TATT.vr.E.7T.%7T!VrT.>TTWyi?.TT.WT.'.TTWI?
i*
ttS
SANCTA CRVX
f Capitulo 8.Df 4^& /* /xw notàueis^laUàs &
âmbar que ha m/las partes.
f^)^WT] ^ tani grande a copia do fabrofo&ía-
.^w^rí"' h\ d'10 pescado que fè inata, afsi no mar ai
^H^i | to^comonosriosácbahiasdcftapuia
cia de q geralmente es moradores fani
participares é todas as capitanias, q efta
16 fertilidade bailara a íuftentaíos abu
dandísimamente 5 ainda que nam ouuera carnes nem
outro género de caça na terra de que íeprouéram como
atras fica declarado ... E deixando a paire a muita varie-
dade daqueilts peixes que comumente nam diíFerera
na femelhançados de cá,tratarey logo em efpceial de hu
certo género áúMè q ha neflas partes,a q chamão peixes
bois: os qes íàmiá grades, q os mayores peiam quore ta
einquoêta arrobas. Teo focinho comodeboy,& dous
cotos cóq nada á maneira de braços. As fêmeas té duas
tetas co o leite das qes íè crião os filhos,0 rabohe largo
rõbo& nã muito cõprido.Na té feiçam algúa de ncrJíu
peixe fomente na pelle queríe parecei cõtuninha.Eíks
peixes pela niayorpartc feàchã cm algus rios,óubahias
delia co fta^rinci pai mente onde aigu ribeiro,ou regato
fe mete naagqaialgada iam mais cercosrpoiq botam- o
focinho forâ,& pacem as heruasquefe criam é femelha
tcs. partes, & çábem comem as folhas de huasaruores aq
chamam Mangues/de que ha grande quantidade ao lo
godos mesmos rios.Os /moradorb';daterra os mata co \
arpões,& tábé e pesqueiras coíluma tomar algus \ porq
D 4 vem
M»T*»lág.aav.âa,ViiAVAi.'.^i^'M|tfaj
ZAi!**JA*á*tÁA!^L*Al*\L*l &.*<£<!! i
HISTORIA DA PROVÍNCIA
vem com a enchente da maré aos taes lugares, & com a
vazante fe tornam a ir pêra o mar donde vieram . Eftc
peixe he muito goftofo em grande maneira,& totalmc
te parece carne, afsi na femelhança como no fabor: &
afladonam tem nenhuadifFerença de lombo de porco.
Também fe coze com couues &guiíaíè como carne, &
aísi nam hapeíToaque o coma, que o julgue por peixe:
íàluofe o conhecer primeiro*
f Outros peixes ha, a que chamáo Camboropíns ,que
Iam quaíi tamanhos como Atuns ; Eíles tem huas esca;
mas muy duras,& mayores que os outros peixesrtambé
íc matam com arp5es,& quando querem pescalos,poé
le cm aígua ponta ou pedra,ou em outro qualquer po-
fto accomodado a efta pescaria. E oquehebom pesca-
dor(peraque nam faça tiro em vão ) quando os vé vir
deixa os primeiro paífar, &efpcraateque fiquemageí
to que poflaarpoalospordetras de maneira, q o arpam
entre no peixe fem as eícamas o impedirem , porq fam
(como digo) tam duras q íe acerta de dar nellas de ma-
rauilhaaspode penetrar . Eíle he hõdos melhores pei-
xes que ha neíias partes, porque alcm-de fer muito go-f
ftofo, hetãbem muito fadio,&maisenxuto de fuapro
priedade que ou tro afgum que na terra fe coma.
^ Tambê haoutra caftadelles a q chamao Tamoatis^q
fâm pouco mais ou menos do tamanho dcfardinhas,5c
nam fe crião fenam é agoa doce. Eftes peixes fam todos
cubertosde huascochas^diftiacas naturalmente coma
laminas^
i » » *» ^ • m. m.: s, %
p.ia.Esy.BgTgiiBrissrag.fBr.TSf.T.sf.T.wwy.TCi.gg.iar.i
JANCTA CRVZ. 3^
laminas,co as quaes andam armados da maneira dos
Tatus de que a trás fiz rnençam, & iam muito fabrofos
& os moradores da terra os tem cm muita eftima.
f Ha cambe hu cerco género de peixes pequeninos, d&
feiçam de xarrocos^a q chamão Mayacús: os quaes iam
tnuy peçonhécos por excremo,efpecialméce a pele o he
tanco, q fe hua pefloa goílar hu fó bocado dellajogo na
qlla mesma hora dará fim a íua vidarporq nam ha,ne fc
fabenenhu remédio na terra,q porta apagar nem detec
poralgu espaço o impitudefte mortífero veneno - Al-
gíís índios da cerra fe auen curam a comellos depois que
lhe tiram a pelle.,& lhe lança fora porbaixo coda aqlU
parte onde dizé q tem a força da peçonha. Mas fem em
bargo diíTo, não deixam de morrer alguas vezes . Eftcs
peixes canco q faem fora da agoa hinchão de maneira^
parece hua bexiga chea de véto;& ale de teré efta quali-
dade, íàm tãmanfosqospodé tomar ás mãos íemne-
nhu t4balho:& muitas vezes andao á borda dagoa tam
quietos,q nam os verá pefloa qfe nam cõuide acoma-
los,& ainda a cornelosfe nãoceuer conhecíméto dclles*
Oucros peixes nam finconeftas partes deqpoíTafazera
qui particular menção: porq em todos os demais, nam
haf como digo)muicadifferença dosdecá,&amayor
parte delles iam da mesma cafta:mas muicò mais fabro
fos,& cam fadios,q nam fe vedão né fazé malaosdoéces
& pêra quaesqr infermidades fam muito feues: & de ca
dà maneira q os comão nam offendem a faude.
5 Nam
I
i
rAàIMWXârS*AtMAL*Af*XL*i<tm<Bn>lM>Mmi**>MíiWmiBMam
B
HISTORIA DA PROVÍNCIA
«f Na me parecco també couíà fora de propoíi to,cratar a
qui algua coufa das Balcãs & do âmbar q dizé q proce-
de delias. E oq acerca difto íey,q ha muitas neftas partes
as quaes coftumã vir darribaçáo a efía cofta, ehíis tépos
mais q outros.q fam aquelles.etn q aísinaladamcce íaç
oambarqomardefilançaforac diuerfas partes defta
prouincia. E daqui yca m uitas cere pêra íi q nam hc ou
ira çouía efte âmbar, fenáo cfterco de Baleas:& afsi lho
chama os índios da cerra pela fua lingua, fem lhefaberé
daroutro nome, Outros queré dizer, q hefem nenhua
faltaa esperma da mesma Balea: mas o q fe te por cerco
(deixado eftas &outras erradas opiniões a parte jheq na
ce efte licor no fundo do mar, ná geralméte é todo:mas
é alguas partes delle,q a natureza acha dispoftas pêra o
criar. E como o tal licor feja mãjar das Baleas , afôrmafç
q come caço dclle,ate fe embebedará, & q efte q fae nas
prayas;he ofobejo q cilas arrebefíam. E fe ifto afsi nam
fora dçfta maneira^ elle procedera das mesmas Baleas
por qualqr das outras vias q acima fica dito^de crer he,q
també o ouuera da mesma maneira é qualqr outra co-
fia deftes Reinos , poise coda parte domarfamgéraes.
Quato mais q nefta prouincia de q trato,fe fez ja experiç
cia é muitas delias q fairam a cofta,&détrodas tripas de
alguas, acharam muito âmbar, cuja virtude hiã ja dige-
rindo, por aueralgú espaço q o tinhío comido. E nou-
tras lhe achará no bucho outro ainda fresco & é fua pet
feiçam,q parece q o acabaram de comer naqlla hora an
tes q morrefsê.Pois o efterco naqllaparte onde a naturc
zaodc
HMlMMMUmàtT.U MJ WJtTJ» 1M1 iimim I
SANCTA CRVL 3©
za o defpede, na té nhua femclh.áça cie âmbar, né fe en-
xerga nelie fermenosdigeftoqo dos outros animaes.
Por onde fe moílra claro,q a primeira opiniã nã fica ver
dadeira,né a fegúda ta pouco opode fenporq a esperma
deftas Baleasse aquillo aq chama balfo,de q ha poreffe
mar grade quãtidade,o qual dizem q aproueita pêra fc
ridas & por tal he conhecido de toda a pefíba q nauega.
% Efte âmbar todo quado logo íàcyvé íblto como fabã 6c
qíi fé nenhucheiro:másdahi a poucos dias íè endurece,
&depois diíTo fica ta odoriferocomo todos fabemos. Ha
todauia âmbar de duas caftas.í.híí pardo a q chamágris
outro preto: o pardo he muyfino &eftimado égrande
preço ê todas as partes do múdo:o preto he mais baixo
nos quilates docheiro,& preftapa muito pouco fegudo
o q dellc fe tem alcáçado:masde hu &doutró,ha laido
muito neftaprouincia;&íae ojeédia,deqalgus mora-
dores enriquecera & enriquece cada hora como he no-
tório. Finalmete q comoDcos tenha de muito logc efta
terra dedicada a CFniftandadeí& o intercííe feja o q ma
is leua os homés trás fi q outra nenhua couía q aja na vi
da?parece manikfto querer intertelos na terra cõ elta ri
queza do mar,ate chegaré a descobrir aqlías grades mi-
nas q a mesma terra prornece?pera q afsi defta maneira
traga ainda toda aqllacega & barbara gere q habita ne-
fias partes ao lume & conhecimento da noíía íanélaFé
catholica^q fera descobrirlheourras minas mayores no
ceo:o qualnoflo Senhorpermittaqueafsifeja;peraglo
ria lua, & faluacam-de cantas almas-
^•MA^A&gAAViA/Xt!^lVJ^VA/MAX.>li\»llM*'lf>lA«>i'I^
HTSTORIA DA PROVÍNCIA
f Capt. 9. Do monftro marinho quefe matou
na capitania de Sam Vicente no
annode 1564.
OYcoufatamnoua,&tamdesufàdaao$
olhos humanos, a femelhança daquelle fc
ro & cfpantofo monftro marinho que ne-
fta prouincia fe matou no anno de 1 j 6 4 q
ainda que por muitas partes do mundo fc
tenha ja noticia delle , nam deixarey todauia de a dar a-
qui outra vez de nouo, relatando por extenfo tudo o q
acerca difto paflbu. Porque na verdade a mayor par-
te dos retratos , ou quafi todos, em que querem mo-
ftrar a femelhança de feu horrendo afpefto, andam er-
rados^ alem diflo, contafeo fuecefíb de fua morte por
differçntcs maneiras, fendo a verdade hua fo, a qual hc
afeguinte , «[Na capitania de Sam Vicente, fendo ja ai
ta noite a horas em que todos começauam defe entre-
garão fono, acertou defair fora de caía hua índia efera
na do capitão; a qual lançando os olhos a hua várzea q
cftá pegada com o mar, & com a pouoaçam da mesma
capitania, vio andar nella efte monftro , mouendolè dç
hua parte pêra outra, com pados & meneos desufados,
& dando algus hurros de quando em quando tam feos,
que como pafmada & quafi fora de fi, íè veo ao filho do
mesmo capitam,çujo nome çra Baltefar Ferreira,& lhe
dcuçontadoquevira,pareçédolhequçeraalgíavifam,
diabólica
*&*M.J
roi»Il^T.S*l!S?Y.Vfro,l
SANCTA CR VZJ ?f
clíabolica.Mas como elle foífe homem não menos fefir
doqueesforçado,&eftagete da terra fqa digna de povk
co credito, não lho deu logo muito a fuás palàúras ,&
deixandofe eftar na cama,a tornou ontra veza mandar
fora,dizcndolhe que fe affirmaíTe bé no que era, E obe
decendo a índia a feu mandado íoy: & tornou mais $f£
pantada,affirmandolhe & repctindolhe húa vez & ou-
tra,^ andaua ali húacoufa tamfea,quc não podiafer
fenam o demónio. Entamíeleuãtou ellemuy de preí-
íà,& lançou mão a huacfpada que tinha junto de ú,co
a qual botou fomente em camiía pela porta fora^endu*
pêra fi(quando muito )que feria algum Tigre, ou ou-
tro animal da terra conhecido,com a vifta doqualfe de
fenganaflfe do que a índia lhe queria perfuadir. E pon-
do os olhos naquella parte que cila lhe afsinalou,vío cd
fufamente o vulto do Monftro ao longo da praya^fem
poder diuifar o que era, por cauía da noite lho impedir,
&o Monftro também fer coufa não vifta,& ferarop*
recerde todos os outros animaes. E chegando fe hum
pouco mais a el ie,pera q m elhor fe podelíe ajudar da vi
fta, foyfentido do mesmo Móftroro qlé leuancando $
cabcça,tãtoq o.vio;começoude caminharpera o mar
donde viera. Niftoconheceo o mancebo q era aquilío»
coufa do mar,& antes que nelíé fe merefIe,acodío com
muita prcftezaa tomarlhea dianteira .E vendo o Mõ-
flroqueellelheembargauaocaminho,leuantoufedí^
feito pcucimA como huhomem^ficandofobreas bar-
batanas
lAf/á^^^UÀ^XVAItfAKtlf.^^aá^tlfttl^^J
HISTORIADA PROVÍNCIA
fcátanas do rabo, & eítando afsi apar có elle,deulhc hua
cftocada pela barriga, & dandolha no mesmo inftantc
íc deiuiou pêra híia parte com canta velocidade,^ nam
pode o Monííro leualo debaixo de íi: porem nam pou
co afrontado, porque ogrande torno de íangueq fahio
da ferida, lhe deu no roftoçom tanta força que quafífi
cou lem nenhua vifta. E tanto que o Mon|rpfe laçou
tm terra deixa o caminho que leuaua,& afsi&rido bur-
lando com a boca aberta fem nenhum medo,remeteo
aellc,&Tndú pêra o tragar a vnhas &adétes, deulhe na
cabeça hua cutilada miíy grande;co aqual ficou ja muy
débil, & deixando fua vaã perfia,tornou entam a cami-
nhar outra vez pêra o mar . Nefte tempo acodíram ai-
gús eferauos aos gritos da índia que eftaua em vclla :■&
chegado a elle o tomaram todos jaquafi morto, & dali
oleuâramdétroâpouoaçamjOndeeíleuc odialeguitv
te â vifta de toda gente da terra. E com eíle mancebo fc
auer moftrado nefte cafo cã animoío como fe mofttou
& fer tido na terra por muito esforçado ? fahio todauia
defta batalha tam lem alento^Sc çcm a vifam defte me
donho animal ficou tam peitmbado &íuspenfo3q pre
çpntandojhe o pay.que era o q lhe auia fuccedido,não
lhe pode refpóder:& afsi eíteue como aífombradofem
falar coufa algua per hum grande efpaço. O retrato de^
íte Mpftro, he efte q np fim do preíçnte capitulo íe mo
ftra,cirado pelo natural . Era quinze palmos de côprida
& iemeado de çabdlospelp corpo, & no focinho tinha
TJ&T&^T&TST&IZIX&jaTXSVrYS.IVS
SANCTA CRVZ. |i
huas fedas muy grades como bigodes. Os índios dacct
ra lhechamáoem fua.lingua Hipupiára,que quer dizer
demónio dagoa. Algíis comoeíle fe viram ja neftas par
tes : mas achanfe rarament^ E afsi também deue de a-
ueroutros muitos moníims de diuerfos pareceres^q no
abismo defle largo & efpàhtofo mar fe eícondé,dc não
menos eftranheza & admiração : & tudo fe pode crdrg
pordifficil que pareça: porque os fegredos da natureza
nam foram rciíelados todos ao homeín, pêra que com
razam pofla negar, & cet por impoísiuef as couías q não
vio nem de que nunqua teuc aoticia.
1
t'«M'A»tt^^A«i«i'j«>'x«i'iai>#gai«afc'«tt'»:w«iA'lg^
SSVSXEJT&TZJJSIlSIVaKSIXEF]
SANCTA CRVZ. J3
f Ci/r/^ a o. Do gentio que há nejla prouhtch, dá
condiam <sr cofiumes delle , {? de comofe
goHernamnapa^;
A que tratamos da terra , & das couíàs que
nella foram criadas pêra o homem, razam
parece que demos aqui noticia dos natura
es delia : a qual poíto q nam íèja de todos
em geral, fera cfpecialmente daquellesq
habitam pela cofta,& cm partes pelo íertã dentro mui-
tas legoas com q temos com unicaçam .Osquaes ainda
que eftejam diuifos,&aja entre elles diuerfos nomes de
nações, todauia na femelhança, condiçam , coftumes ?
& ritos gentílicos todos fam hus .Efe nalgua maneira
diíferem nefta parte, he tam pouco, quç fe nam pode fa
zercafo diflb,nem particularizar coulàsfemelhantes,en
tre outras mais notaucis,que todos geralmente feguem
como logo a diante direy.
tf Eftes índios fam de cor baça Sc cabello corridio; tem o
rofto amafíado & alguas feições delle á maneira de
Chins . Pela mayor parte íàm bem dispoftos,rijos õc de
boa eftatura: gente muy esforçada & que eftima pouco
morrer, temerária na guerra & de muito pouca confide
raçam. Sam desagradecidos em gram maneira , & muy
deshumanos& crueis,inclinados apelejar,&vingatiuos
por extremo. Viuem todos muy defeanfados ícm teré
outros penfamentos,fenam de comer, beber, & matar
E gente,
I AMAAVl éUÂ*£áJL Â*r±J!J±J£al!ÃrJXivX A»JXlA*»XMfJXl
HISTORTA DA PROVÍNCIA
géte,&poriflb engordao muito: mas com qualqrdes-
gofto pelo cõfeguinte tornam a emmangrecer. E mui-
tas vezes pode nelles tanto a imaginaçam,q fe al<ní dele
jaa morte,ou algué lhes mete em cabeça qhade morrer
tal dia,ou tal noke,na.m paíTa daqile termo q nã morra.
São muy inconftantes & mudaueis : crem de ligeiro tu
do aquillo q lhes perfuadem por difficulcofo & impofti
uelqfeja, &có qualquer dífluafam facilmente o torna
logo a negar. Sam muy deshoneftos & dados áfeníua-
lidade,& aísi fe entregam aos vicios como fe nelles nam
ouuera razam de homes: ainda q todauia em leu ajunta
mento os machos com as fêmeas tem o deuidoresguar
do , & nifto moftram ter algua vergonha.
5 Alingoa de que vfam, toda pelacofta he híía : ainda q
cm certos vocábulos ditferenalgúas partes: mas não de
maneira qfe deixem hús aos outros de en tender :&ifto
ate altura de vinte & fetc grãos, que dahi por diante, ha,
outra gentilidade de que nós nam temos tanta noticia,
que falão ja outra lingua differente . Efta de q trato qhe
geral pela cofta,he muy branda,& a qualqr naçam fácil
de tomar . Algus vocábulos ha nella de q nam viam fe-
nam as fêmeas: Sc outros q namferuem fenam pêra os
machos .Carece de três letras, conuemafaber,nam fe a-
cha nella/, nem,l, néj^coufa digna despanto;porq afsi
nam tem Fé, nem Ley, nem Rcy : & deita maneira vi-
uem desordenadamente femteré alem difto conta, ne
pefo; nem medido. Nam adoram a coufaalgi1a,nem té
pêra
sgEnsrigiTgsnsrTsngy kj T-ai&jiaiii&i kíjej iiJBaKJiay etef raisrra,igrarai^T.^?re
S ANCT A CRVZ; 34
perâ fí q ha depois da morte gloria pêra os bos ] & pena ^cerci
pêra os mãos. E o q íènté da immorcalidade dalma não' da Re-
he mais q cere pêra fi q feus difFuntos andam na outra tifV*™*
vida feridos, despedaçados,ou de qualquer maneira q a
cabáram nefta. Eqndo algu morre,coftumão enterralo
cm hua cotia aflentado fobre os pés cõ fua rede ás coftas
qcm vida lhe feruiadecarna. E logo pelos primeiros di
as poemlhe feus pareces de comer é cima da coua,&tatn
bé algus Ihocoftuma a meter détro qndo oenterrãp&to
talméte cuida qcomé,& dorme na rede cj té côíígo na
mesmacoua. Eftagecenam té entre fi nhu Reynê ou-
tro género de juftiça/enã hu principal é cada aldea,q he
como capitã, ao ql obedece por vótade&nã por força.
Quãdoefte morre fiquafeu filho no mesmo lugar pec
fucceflam,&nãferue doutra couía lenam de yr cõ elles
á guerra,& acófelhalos como fe hãde auer na peleja:mas
nã caftiga feus crros;né mãda fobre elles couiâ alpua co
tra fuás vótades. E afty a guerra q agora té hus cõtra ou-
tros, nã fe leuãcou na terra por fere diflferétes é leis né é
coftumeSjné por cobiça algua de interefle:masporqaa
tiguamétc fe algu acercaua de matar outro , como ainda
agoraalguas vezes acócece(como elles fejã vingaciuos&
viuãcomo digo abíolutaméte fem teré fuperior algu aq
obedeça né temamos parétes do morto fe cójurauãcõtra
o matador & fua geraçã & fe perfeguiã cõ tãmortal odío
husaoucros^daqui veodiuidiréfe é diuerfos bãdos3&
ficarem immigos damanciraqagoracftã.Eporqeíhs
E 2 disfenfoens
íA.VAA.K'AA.VXLOil<*lI<t\'I*,VEÚ.\<r*ilIia<I¥n<li?íK
ssassaasaa
HISTORIA DA PROVÍNCIA
diíTcníbés nam foflem canto por diantc,determináram
atalhar a ifto viando do remédio feguinte , pêra por efta
viafe poderé melhor cóferuar na paz & fe fazerem mais
fortes contrafèusimigos. E he aquando o tal cafoaco
tece de hu mataraoutro,os mesmos parentes do maça-
dor fazé juftiça delle, & logo á vifta de codos o afogam.
E co ifto os da parce do morto ficam fatisfcitos,& hus&
outros permanece em fuás amizades como dantes.Poré
como efta ley feja volútaria & executada fem rigor , nc
obrigaçam de juftiça algua ? nam queré algus cftar por
çlla,& daqui vé logo pelo mesmo cafo a diuidircnfe , &
Icuãtarenfede parte a parte hus contra os outros como
ja diíTe.
^ As pouoações deftes Iíidios^íàm aldeãs: cadahua del-
ias tem fete oito cafas,as quaes iam muy cópridas/eitas
á maneira de cordoarias ou tarracenas , fabricadas íómc
tedemadcira,&cubertascõ palma ou có outras heruas
do mato femelhan tes: eftam todas cheas de géte de hua
parte &doutra,& cada hu por fi, tem fua eftancia &fua
rede armada em q dorme:&afsi eftam hus ju tos dos ou
tros per ordem, & pelo meyo da cafa fica hu caminho a-
berto por onde todos fe feruécomo dormitório, ou co
xia de galé . Em cada caía deftas viuem todos muito có
formes,fem auer nunqua entre elles nenhuas diíFereças:
antes fam tam amigos hus do$ ou tros,cj o q he de hu hc
de todos,& íèmpre de qualqr coufa q hú coma por pe-
quena q feja todoloscircuftátes hão de participar delia.
^Quando
ãrm.rarEJYCTOTran
* ANCTA CRVZ. 14
f Qtnndo alguém os vay vifi car a fuás aldeai, depois q
feaHcnta,coftumãochegarcníeaellc alguas moças es-
cabelladas,& recebéno com grande pranto derramado
muitas lagrimas, pcrguntandolhc(fe he feu naturaljoti
deandou,q trabalhos foram os q paííou depoisqdahi
íè foy: trazédolhe á memoria muitos deíafties qlhe po
deram acontecer; buscando en fim pêra ífto as mais tri
ftes &fen tidas palauras q podem achar, pêra prouocaré
a choro .Efehe Portugues,maldizem a pouca dita de íc
.usdiffun tos pois foram tam malafortunadosqnamal
cançáram vergéte tam valerofa & luzida pmo Iam os
Portuguefes^dccuja terra todas as boas coufas lhes vem
nomeando alguas q ellcs tem cm muita eftima . Eeftc
recebimento q digo hc tam vfado entre elles,q nunqua
ou de marauilha deixam de o fazer; faluo quando reina
algua malicia contra osqueos vão vilítar, & lhes querc
fazer algua treiçara .
f As inuéçóes & galatarias de q vfam, fam trazerem ai-
gus o beiçodebaixo furado,&hua pedra cóprida metida
no buraco Outros haq trazéorofto todocheode bura
ços & de pedras,& afsi parece muy feos & disformes : Sc
■ ifto lhes fazem ernqnto fam minínos.Tãbem coftumá
-todos arrancarem a barba, & nam cofentem nenhu ca-
bello em parte algua de leu corpo: faluo na cabeça \ ain-
da q orredor delia por baixo tudo arrancam . As fêmeas
prezanfe muito de feuscabellos,& trazem nos muy có-
pridos, limpos & penteados, & as mais delias ennaftra-
E l dos.
w+atmà!fmaev»MVfAà
kAYAAVAAKA*V4
n
HISTORIA DA fROVIMCra
dos. E afsi tâmbé machos como fêmeas coftumaotmgií
íè alguas vezes có o fumo de hú cerco pomo q le chama
Genipápò,q he verde qndo fe pifa,& depois q o poé no
corpo & fe enxuga,fica muy negro,& por muito q fe la-
ue, nam fe tira lenam aos noue dias.
, f As molheres có q coftumã cafar, fam fuás fobrinhas fí
lhasdereusirmãos>ouirmaás:eftascemporligitimas(5c
verdadeiras molheres^ nã lhas podem negar léus pais^
liem outra peífoaalgua pode cafarcóellasjená os tios.
Nam fazê nhuas cerimonias é feus cafamentos^é vlàm
demais neftea^o^q dekuarcadahú íuamolherperaíi
comochegaahúa certa idade porq esperam, q feram en
tam de qtorze ou quinze annos pouco mais ou menos*
Algusdelles té tres quatro molhercs,a primeira té é mui
ta eftima & faze delia mais cafo q das outras . E ifto pela
mor parte fe acha nos principaes,q ore por eftado& por
hõra^prezaíè muito de fe differéçaré nifto dos outros.
% Alguas índias ha tábem entre etles q determinam de
Ter cailasras qes rum conhecem home algu de nhúa qua
!idadc>né o confentiram aindaq poridoasmaté. Eílas
deixam todo o exercício de molheres & imittam os ho-
rries &feguéfeusoflfícios como fe nam foífem fêmeas.
Trazc os cabellos cortados da mesma maneira q os ma-
chos^ vá a guerra có feus arcos Sc frechas & a caça períc
ucrando fempre nacompanhiadoshomesy&cadahúa
tem molher q a feruc com q diz que he calada, & afsi íc
comuaicainíJcconuexíam como marido & molher.
.__-,• .___ .■ . . ,j.— * --.--. - - .— — ■ — - _^ « é-
Todas
svi&raiCTT&cjTâfisnur
issnsHEsiEHmí&tânssnBim
S'A N-CTA CRV2. %'i
fTodasãs outras índias qndoparcm,a primeira coufaq
íãzem depois do parto, lauáfe todas em húa ribeira,& h
cam também dispoftas como fe nam panram,& o mes
mo fazem a criança q parem. Em lugar delias fe deitáo
íèus maridos nas redcs,& aísi os vifità & curam como íc
cllcs foflem as mesmas paridas. Ifto nacc de cilas terem
cm muita conta os pais de léus filhos & deíejarcm cm
cftremo depois q pare delles de cm tudo lhes cóprazen
f Todos cná ieus fiihos viut famente fero tihua manei
ra decalf igo,& mamão ate idade de lecc oito árjcs,fe as'
mãisteentam nam acertam de parir outroscj os tire das
Vezes. Ná ha entre elles nhíías boas artes a qíedésncíe
©ecupam noutro excrcicio,(cnam em grangear com Te-
us pais o q ham de comer, debaixo de cujo tmpsroefíã
agaíalhados ate q cada hu por íí he capaz de bíiscar lua
vidafem mais esperarem heiãças delles,ncm legitimas
deq enriqueçam, lòmentc lhes pagam com aqlla cria-
ram em que a natureza foyvniuerlal a todos osoutros
animaes q nam participam de razam. Mas a vida q bus
cam,& grangeariadeq todos viuem,heácufta de pou-
co trabalho,& muito mais descaníada q a nolla:porqu<*
nampoííuem nhúafazéda,nem procuram acquiriia ca?
mo os outros hcmés,& afsi viuem liuresdc toda cobiça
&deíejo dcíordenado de riquezas, de que as outra* na
çoens nam carecem: & tanto,quc ouro nem prata nem
pedras preciofastem entre elles nenhua vallia , nem
pira feu vio tem neceísidade deaenhúa couía dt ftas,
Ei nem
■ *1>|A*YA AMfc ét.'A 4.V
r«âroáMra»a»Baraiw*rafettj^
mM
gigaEaigfrcgiigy^Tgf^ggffCTWwgEWWHWWB
_1 ««TÔRfA »A FROVINCTA
nem doutfas femelhantcs. Todos andam nus Sc dcscaU
ços,afsi machos como femeas,& nã cobrem partealgua
de feu corpo . As camas cm q dorme, iam huas redes de
fiodalgodamq as índias tecem nu tear feito á fua arte:
asjes té noue dez palmos de cõprido , & apanhãnas c5
hus cordéis q lhe remata nos cabos em q lhes fazé húas
aíclhas de cada banda por onde as pendura de húa par
te & doutra, &afsi ficam dous palmos, pouco mais ou
menosfuspendidisdocham,de maneira q lhes poífam
' fazer fogo debaixo pêra feaquentarédenoi te, ou quan-
do lhes torncccííario. Os mantimentos q plantam em
fuás roças có q fc íuftentam,fam aqlles de q atras fiz me
çam.f mandioca & milho zaburro . Ale diftoajudaníc
da carne de muitos animaes q matam, afsi cõ frechas co
mo por induftriadefeus laços & fojos, onde collumão
caçara mor pat te delles. Tambefe fuftentam do mui-
to marifeo & peixes q vam pefear pela coita em jãgadas,
qfamhíístresou quatro paos pegados nos outros &jíi
| tos,dc modo q ficam á maneira dos dedos dehííamão
eftcndida,fobreosqes podem yx duas ou três pe (loas, ou
mais fc mais foré os paos, porqfam muyleues& fcffré
uitopefo encima dagoa . Tem quatorze, ou quinze
, palmos de cõprimento,& de grofiuraorredor oteupa-
rám dous pouco mais ou menos. Defta maneira viuem
todos cftes índios fem mais terem outras fazédas entre
íi,nem grangearias em q fe desuellem: nem tam pouco
eftados nem opiniões de honra, nem popas pêra q as a
jam
1
li
ik.-auu »..A«Mm «R3*:«jiaJ
fSFtisnssnsaxs&xsa ra ejtí* líz ií^ji
S A NCTA CRVt ?y
;àm miíler; porq codos(como digo) Smignâes^er^
fcudo um conformes nas conciiçõcs^ ainkía nefta fattè
viucmjuftamcnte&conformeáieydé riâtureza;
f (apitu.i i. Vasguerras quetemhúscormutrosts*
amaniradecomojibaomllas.
j|] Sccs índios té fempre grandes guerras hu£
" J; côcra os outros &afsi núqua íeachanelles
I p^zvnem íerapofsiuclffegudôfarn vingati
uos&odiofos) vedarenfe entre elleseíla^
discórdias poroutranenhuá via,fe nifor per meyosda*
do&rina Chriftaá coq os Padres da copanhia pouco £
pouco os vãoamanfandocomoadiãtedirey. Asarmos
cõ q pelejam/am arcos & í>echas,nas^es andam tãexe*
crLidosq de marauilha erram a coúlà cj apõtem por diffi
cilqfejadacertar. E no ddpedir delias iam muy ligei-
ros em extremo,& fobre tudo muy arriscados nos peri
gos &atreuidoségram maneira cótrafeus ádueríarios. J
Quando vã a guerra fempre lhes pareceq te certa a viélo
ria,& q nenhu de fua copanhia ha de morrer, & afsi em
partmdo^dizem^amos matar fem mais outro discurfe
nccófideraç£:5cnãcuidáq també podem fer vencidos.
E fomente co efta fede de vingança, fern esperanças de
despojos,né doutroalgu interelTeqaiíío os moua,vão
muitas vezesbuscarfeusimmigosmuylõgecaminhan
do por ferras, matos,defertos & caminhos muy ásperos*
Outros coftumáo yr por mar de huas cerras pêra outras
cm
k ATJAAVi* A«AAVAA,VAAV,i AVA i VA I »> A f»Al!tfl L'JlLL<J±ALiill
l^^s^riT^t^SifWif&iT&i^^^i^^Baiwm.rêmfív^aiVs^
HISTORIA DA PROVÍNCIA
5m-hifes embarcações a q chamao Canoas qndo querc
fazer algus faltos ao logo da cofta.Eftas Canoas famfet
tasá maneira de lançadeiras de tear de hú fo pao,em ca-
da hííadasquacs vam vinte trinta remeiros. Alem deftas
ha outrasq íàm da casca de hu pao do mesmo tamanho,
cj íc accomodam muito ás ondas , & fam muy ligeiras,
aindaq menos feguras: porq fcíe atagávanfe ao fundo
o q nam tem as de pao,q de qualquer maneira fempre
andam encima dagoa. E quando acó tece alagarfc algíía
CS mesmos Indios/e lançam ó mar,& a fuften tam ateq
aaçabam desgotar,& outra vez 1 e em barcam nclla &. cor
mmafazerfua viagem.
f Todos é íeuscó bates íàm muydeterminados,& peleja
mvy ánimofametefem nhuas armas dcfenfiuas; &alsi
parece couíàeftranha ver dous ttes milhomés núsde par*
te a parte frechar bus aos outros có grandes íuuios& gii
l3,men£andole todos có grande ligeireza ,dt húaipar-
tçpcra outra, pêra que nam podam os imigos apontar
nem fazer tiro em peífoa certa. Porem pelejam desorde
jiadamente^&desmandanfe muito hús & outros em fe
1 tnelhates brigas, porq nam te capitam q os gouerne, nc
outros officiaes de guerra,a q ajam de obedecer nos taes
tipos. Mas ainda q defta ordenança careça, todauia por
entra parte,danfe a grande manha em feuscometimea
tos,& iam m uy cautos no escolher do tempo em q hão
defazet feusaíTaltosnasaldeasdosimigcs:fobreosquaes
coftumâ dar denoite a hora q os achem mais descuida-
dos, E qndo acõtcce nam poderem togo entralos por ai
^CT,TOi7T.gT.VIT.«Trafflrag,ralT^^
S INC? 'A /GftVL • ?S
jgua cerca de madeira lhes ferimoedimeto q ellcs te or?e
dor daldea pêra fua dcfenfom,fazc outra femelhantckl
gu tanco feparada da mesma aldear&atsi a vã chegando
eada noite dez doze pados ate q hú dia amanhece pega*
da có a dos cócrarios,onde muitas vezes fe acha tam vc -
zinhos q vem a quebrar as cabeças, có paos q arremetóa
husaosoutros. Mas peia mor parte os ' -q eflam iraatdte
ficão melhorados da peleja^- as mais das vezes fe coim
os comwtedores desbaratados pêra fuás terras tem coníê
guirem viótoria,ne triumpharemde feus imigos^conio
precediam: Sc iftoalsi por nam terem armas dctrnfiabs
, nem outrosapercebimentos necefiariós peraíeintárf f-
rem nos cercos,& forcicare m contra feus imigos , coma
também por íeguiré muito agouros \9 & qualquer cou&
que Telhes antolha fer baftante a reciràlloç de leuitoéríí^
&tamincóíKces&pufiianimesíaitom^
tas vezes có partirem de fuás terras muy determinados:
& defejofos de exercitarem fua cru eldade,íc acontece eti
cócrar nua certa aue,ou qlqiicr outra coufa íemelháte^
elles tenha por ruim pronoftico^nã vá mais pordíátecO
fuaditerminaçã,& dali cófultã tornarfe outra vez fera
auer algu da cópanhia q feja cótra efte parecer Aísi q c5
ípquer abufam deftas a todo tépo fe abalam muy tacii-
;méte,aindaq etlejã mnyperto de alcançar vicfcori^por
q jaacóteceo teré hua aldeaqflrédida,&ph.5 papag^yo
cj mia nella falar húas certas palaurasq lhe eltcstmhã efi
iudo,leuãtará o cerco& fogirá fem esperai é o bõ f iceflb'
^ o tempo
kAYAAYAAVAAVAAVAA.VAA.YAA-.7ft4
k AYAAYA AVA AVA AVAAV.A AMA IVA l'J>\ £ « JlHH* AAiAIAtflLA»*^
ftcpolhes prometia, crendo fcm duuida q fcafsi o nani
jfczeram,morréi;am todos a mãos de feus irnigos . Mas
fáfora cftapufilanimidadc a q cftam fogeitos - iam muy
- atreuidos(rcomodigo)& tam cofiados cm fua valentia,
cj nam ha forças de cótrarios tam poderofas q os aífom
v brem^neni qos façamdesuiar de luas barbaras & vinga
i tiuaa tenções j A cílepropoíicocótarey algús caíbs no-
taucisqacontecéram entre dlcs,deixando outros mui-
tos a parte de q eu pudera fazer hu grade volume,fe mi-
nha teçam fora efcrcuellosem particular como cada hu
idos fèguíntes.
f Na capitania de S-Vicé te fendo capitam Iorge Ferreira,
aconteceo darem os cótrarios em húa aldeã q eftaua ní
àkmy longe dosPortuguefes,& ncfte aflfalto ma tare hú fi
Jhõjdõ Principal da mesma aldeã. £ porcj elle era bé qui
jftorj&amado de todos, nã auia peííoa nella q o ní pran-
:teaíTc,moftrãdo có lagrimas & palauras magoadas o fen
timêtodeíua morte*Mas o pay como corrido & afóu
do de jnaauer ainda nefte caio tomado vingãça,pedio a
odoscó efficaciaq le oamauá diísimulalsé a perda de
íca filho,&q per nhúa via o quiíéfsé chorar.Paífados três
ouqtro meles depois da mortchdofíiho,mIdou aperec-
Ucr fuagentecomo conuinha?porlhepareceraquellc
tempo mais fauqrauel&accomodado a íeu propoíito:
o que todos logopoferam emelfeóto. E dália poucos
dias dera coníigo na terrados cótrarios (q feria diftãcia
*te tres jornadaspqueo mais ou menos^onde fcerã luas
ilíadas
^^raiCTiTZKOTiigriEa.BffiEatxffiM
rEJIí^7 EsTE? TEn^EsHBT ESyEI^SyfKfT.^TT.VFTa.EZKJl
SANCTA CR V Z. 3*
filadasjunto da aldca em parte q mais podeíTem ofFcn
der a feus imigos:& tanto queanoiteceo,o mesmo Prin
cipal fe apartou da cõpanhia có dez ou doze frecheiros
efeolhidos de q elle mais fe coníiaua , & co elles entrou
namesma aldeã dos im igos,que o auiam offendido: &
deixandoosa parte, fó fem outra pcflba o feguir,comc
çou de rodear hua caía & outra efpreitadocõ muita cau
tella de maneira q nam fofle fentido:&da pratica q elles
tinham hus com os outros veo a conhecer pela noticia
do nome qual era,& onde eftaua o que auia morto feu
filho,& pêra fe acabar de fatisfazer,chegoufe da báda de
fora a fua eftãcia,& como foy bem certificado de elle fer
aqlle,deixoufe ali efiar lançado em terra efperando q íc
aquietafleagente. E tanto quevio horas acomodadas
pera fazer a fua, rópeo a palma m uy manfamente, de q
acafa eftaua cuberta,& entrando foife direito ao mata-
dor,aq qual cortou logo a cabeça em breue espaço com
hucutelloque peraiííoleuaua. Feito ifto tomou a nas
mãos & fahiofefora a feu faluo. Os imigos q nefte tem-
po acordaram ao reuoliço & eftrondo do morto, conhe
cendo ferem contrários, começaram de os feguir. Mas*
como feus cõpanheiros que elle auia deixado em guar-
da eftauam promptos ,ao íàir da cafa mataram muitos
delles,&afsi fe foram defendendo ate chegarem as fila-
das,donde todos íairam com grande impetu contra os q
osfeguiã,& ali mataram muitos mais. Ecõcfta vi&oria
fè viera recolhendo pera fua terra có muito prazer & co
tentamento.
&il<AtrMê.VAar.+*VAm.\'A*.v*arMàzsAãr>'A*r**MrMwti*mrfi
t'AVAAyA'^a».VI*'A!MtA^'A«^'l.W
1
a
HISTORIADA PROVÍNCIA
tentamento . E o Principal que configo trazia a cabeça
do immigo, chegado a íua aldeã a primeira coufaq fez
foifeao meyo do terreiro da mesma aldea,& ali afixou
nu paoá vifta de todos dizcdo eftas pala uras . Agora co
pandeiros & amigos meus cj eu tenho vingada a morte
de meu filho,& trazida a cabeça ào que o matou diante
voflbs olhos, vos dou licença que o choreis muito em-
bora: que dantes comais razam me podereis a my cho-
rarem quanto vos parecia que por algum descuido di-
latauacfta vingança, ou que por ventura esquecidode
tam grande offenfâja nam pretendia tomalla,fendo eu
aquelleaquem mais deuia tocar o fentimentode fua
morte. Dali pordiante foyíempreefte Principal muy
temido j & ficou leu nome aífamado por toda aquella
terra.
f Outro cafo de nam menos admiraçam aconteceoen
tre Porto feguro Sc o Spirito Saneio , naquellas guerras
onde mataram Fernão de Sá filho de Memde Sá^q en-
tam era Gouernador geral deftas partes. E foyq tendo
os Portuguefes rendida hua aldeã com fauòr dalgus In;
Jios noírosamigosque tinham de fua parte, chegarão
a húa caía pêra fazerem prefa nos imigos como ja tinha
feito em cada hua das outras. Mas elles deliberados a
morrer, nam coníintiram que nenhum entrafíe den-
tro^ os defora vendo lua determinaçam,&qúepor
nenhúa via le queriam entregar, dixeranlhes que 1c lo
go a hora o nam faziam , lhesauiam de por fogo á caía
fem
sfEJirçilEFEnsrEsí
SANGTA CRV2. 4o
fem nenhua remiflarn . E vendo os noflosque c5|elles
nam aproueitaua efte deíengano , antes fe punham de
dentro cm detcrminaçam de matarquantospodeíFem,:
lhespoíeram fogo:& citando a caía afsi ardendo,oPria
cipai delles vendo que ja nam tinham nenhu remedia
de faluaçam nem de vingança,&que todos começauá
de arder, remeteo de dentro com grande fúria a outro
Principal dos cócrarios que padaua por defronte da por
ta da banda de fora,& de cal maneira o abarcou ,qfern
fe poder Iiurar de luas mãos, o meteo configoem caís,
& no mesmo inftantefe lançou com elle na fogueira^
onde arderam ambos com os mais que la eftauam fera
cfcapar nenhum.
f Neíte mesmo tempo &luçar deu híí Português hua
tam gram cuciladaa hum índio, que quaii ocortou
pelo meyo : q qual caindo nochão jacomo morto,an~
tesque acabafle de efpirar, lançou amão a hua palha
que achou diante de íl, 5c atirou com ella ao que o ma
tara, como que fedixcra .Recebemc a vontade que te
nam poíTo mais fazerque iftoque te faço em final de,
vingança .Donde verdadeiramente íe podeinfirirque^
outranenhua coufa osatormenta mais na hora de liu
morte quea magoa queíeuam de fe nam
poderem vingar de feus
imigos,
fCapi.u^
1
SáAVAt-titáriAi
w.Uif.iH'.'lwiwimiiiM1m.im>inmri»ft'l
! Sif i*3T W»T
TOfravrcssrrasr^iTrfWTrrayj^^
HISTORIADA PROVÍNCIA
1
II
I
s
I
I
I
1:
f| Capitulo n. Da morte que dam aos calinos
i? crueldades que vfam come lies.
VA dascoufas cm que efíes índios mais
repugnam o fer da natureza humana, & c
que totalmente parece quefe extremam
dos outros homés, he nas grades & excef-
íiuas crueldades q executam em qualqr
pcíToa que podem auer ás mãos, como nam fejadefeu
rebanho. Porque nã tam fomente lhe dão cruel morte
cm tépo que mais liures & defempedidos cftã de toda a
paixam: mas ainda depois dilío, por fe acabarem de fa-
tisfazer lhe comem todos a carne, viando neíla parte de
cruezas tam diabólicas, que ainda nellas excedem aos
brutos animaes que nam tem víb de razam,nemforão
nacidos pêra obrarclemencia,
1 Primeiramente quando tomão algum contrario,fe lo
go naquelle fraganteo nam matam,leuã no a fuás terras
pêra que mais a leu fabor fe políarn todos vingar delle.
E tanto
* —» "••■■ "•-*-» "■•■« *■•**■ "■•■» "" "»»'" "" »" "" "•'■» *■-» "» ""» *"■ ~ »""»ffiT" ^» """» *JJ» »"•
graiai^T^^iiai^iigi^i^iaii^
SANCTA CRVK *f
E tanto q agente da atdca tem notícia que elíes trazem' .
© cal çatiuo, dahi lhe vão fazendo hu caminho ate obài
de meya legoa pouco mais ou menos onde o cfperam.
Ao ql cm chegando/ecebem todos có grandes atrontâs
& vitupérios, tangendolhe húas tramas q coftumam fâ
7xx decanas das pernas doutros cótraiios lemelhantes
q matam da mesma maneira. E como entram na aldeã
depois de aísi andarem có elletriumphandode huapàt
te pêra outra, lançanlhe ao pefcoço hua corda de algo-
d^m qperaiíTb tem feita,aqualhe muygrofla, quanto
naqlla parte q oabrãge,&tecidaou enlatada de manei
r^q ninguém a pode abrir nemcerrar,fenamheomçs
moofficialqafaz. Efta corda tem duas pontas compri
das por onde o atam denoite pêra namfogir. Dali o me
tem nua caia, & junto da eftancia daqucllcqo catiuoíi
lhe armão hua rede,& tanto q nella fc lança , ceflam to-
dos os agrauosfemauer mais peflba q lhe façanhúaof-
fenfa. B a primeira coufa que logo lhe aprcíéntam,he
hua moça a mais fermoía & honrada que ha na aldeada
qual lhe dam por molher:& dahi por diãte cila tem car
go de lhe dar de comer & de o guardar, & aísinam vay
nunqua pêra parte que onamacópanhe .E depois de o
terem deita maneira muy regalado hu anno, ou o tepo
que querem, determinam de o matar, & aquellcs vlti-
mos dias antes de íua mòrte^por feftejarcm a execuçam
defta vingança, aparelham muita lou^a noua,&fazc
muitos vinhos do çumo de hua planta, qfc chama Ai-
F piro,
ZÂâr**VJAâ.v+aiV*»ff*ai:'AâtJ!Aawi
Uft *Y4 ÊUA AYAAh
^'^A«^'«P.»JA^I^'A».«lA^.»AA.UlwAlj<.A'fO»'^;.l^MtXO>'J»tl^«Atl
«I HISTORTADA PROVÍNCIA
ptm,de que atras fiz meçam. Neftc mesmo tempo lhe
ordenam hua caía noua óride o mete. E o dia q ba de pa
decer, pela menhaã muito cedo antes que o foi fap,o ít
ramde!la;& com grandes cantares & folias/y leoa ma ba
libara bua ribeira . E tanto que o tornam a trazer vaníc
com elle a hu terreiro qeftá no meyo da aldeã &alitbc
fnudam aquella corda do pescoço á cinca, paflandolbc
iiua ponta pêra trás outra pêra diátc:& em cada húa de-
las pegados dous três índios. As mãos lhe deixam íoltas
porque folgam de o ver deffender eõ ellas: & ali lhe cbc
gam bus pomos duros que tem entre íi á maneira de b-
ríjas com que poflía atirar &ofFender a quem quiíer. E
aquclleque efta deputado pêra o matar^ke hu dos mais
valentes &honradosda terra.aquem por fauor & primi
tiencia de honra concedem cite officio . O qual fe empe
lia primeiro por todo o corpo com penas de papagayog
<& de outrasaues de varias cores .Eaísi íaedefta manei-
ra com hum Índio que lhe traz a efpada (obre hú algui-
dar, a qual be de bum pao muy duro & pefado , feitaá
f maneira de hua maça,ainda que na ponta tem algua íc
I melhança de paa * E cbegandoao padecéte a toma nas
mios,& lha pada por baixo das pernas & dos braços me
neandoa de bua parte pêra ou tra. Feitos eftas cerimonias
afaitafe algum tãto delle,& começa de lhe fazer húa faia
a mododepregaçamrdizcndolbeque íè moftre muy
esforçado em defender fita pefíba, pera que o nam des-
lionrc, nem digam 4 matouhu home fraco,afiminado
&dc
5ANCTA CRV£ tf
& de pouco animo,& que fc lembre que dos valetes hc
morrerem daquella maneira em mãos de feus ímigos,
& nam em luas redes como molheres fracas, que nâo fo
ram nacidas pêra com luas mortes ganharem femelha-
tes honras . E fe o padecente he homem animofo,& na
cfládesmayadonaquellepafio(como acontece a algus)
respondelhe com muita loberba & oufàdia,que o mate
muito embora, porque o mesmo tem elle feito a mui-
tos feus parçtes & amigos. Porem que lhe lembre q aíii
como toma de fuás mortes vingança nelle/qalsitambc
os léus q háo de vingar como valentes homés^ôc auereti
íe ainda com elle & com toda fua geraram daqlla mes-
ma maneira. Ditas cftas& outras palauras femelhan-
tes3que ellcscoftumãoarrezoar nos taes tempos, reme
te o matador a elle com a cfpada leuancada nas mãos,
cm poftura de o matar,&com ella o ameaça muitas ve
EeSjfingindoquelhequerdar. Omiícrauel padecente
que fobrefi vé a cruel eípadaentreguenaquellasviolen
tas & rigurofas mãos do capital imigo,có os olhos & feri
çidos prontos nella, em vão fe defende quanto pode. E
andando aísi neltes cometimentos, acontece alguas ve-
zes virem a braços, & o padecente tratar mal ao mata-
dor comarnesmaefpada. Mas iílo raramente, porque
acodem logo com muita prcftezaoscircunflantesali-
uralo de luas mãos. E tanto que o matador vc tempo
opportuno , tal pancada lhe dá na cabeça , que lo-
go lha faz em pedaços . Eftá hua índia velha preftes
F z com
Mâr«aiTtia<rii*AYa*v*fcYAár^aM*jia*j
ÍVAXtLàUAX^âtfàMZ*AXAJLl£lÀ?t±lVXlK*AlV*A\*AS&JX'±*Z!iJ
uwwiisffliíEKswisain^
HISTORIA DA PROVÍNCIA:
iom hu cabaço grande na mão , Sc como clk cae, acode
muito de prelía a meterlho na cabeça pera tomar ncllc
os miolos & o Tangue, E como deita maneira o acabam
de matar, fazeno cm pedaços^ Secada principal qahi 1c
acha,leuafèu quinhão peracóuidar a gente de fuaaldeaè
Tildo enfim afiam & cozem ,& nam fica delle couTaq
nameomao todos quantos ha na terra. Saluoaqlte que
o matou nãcome delle nada,& alem diíTo mandaíe Tar-
jar por todao corpo, porq tem por certo q logo morre-
íá,íc nam derramarde fi aquelle Tangue tanto q acaba
de fazer íèu officio . Algú braço ou perna, ou outro qual
querpedaçode carne coftumáo afiar no fumo, & tella
guardado algus meíès,pcra depois quando o quiíere co-
mer, fazerem nouas feftas, & co as mesmas cerimoniai
tornarem a renouar outra vez o gofto deíla vi ngança co
mo no dia cm q o mataram l E depois q afsi chega a co
mera carne de íèus contrários, ficam os ódios confirma
dospcrpctuamcnte,poiqícntem muito efta injuria, &
porilFo andam fempre a vingaríe husdos outros como
I jatenhodito.Efeamolherqfoydocatiuoacertadefi-
f car prenhe, aquella criança q pare, depois de criada,ma-
I tãna&comcna Tem auer entre ellcs pefiòaalguaq íceo
í padeça de taminjufta morte e Antes Teus próprios auós
( a quem mais dcuia chegar cila magoa) Tam aq! fesque
c5mayorgoftooajudamacomer,5cdizéq como filho
de Teu pay íc vingam delle: tendo pera fique em tal caTo
nám coma cfta criatura nada dã mãy,nc crem q aquella
rir ., ;" " imig*
I
km*.\mmju».ma.immmimmrKi*Miir**.:.m.iji*ÊLT*-*.mjinm**m ■■■111
SfEirajisrErissnsirEraara^
SA NCTA CRV2: ||
imíga fcmentc pode ter miftura com íêu íarigue . E por
cftc respeito fomente lhe dam cfta molhcrcomq con-
uerfe: porque na verdade fam cllcs tacs,que nam fc auc
riam de todo ainda por vingados do pay,(e no innocétc
filho nam executaflem cfta crueldade . Mas potq a imy
fabc o fim que hão de dar a cfta criãça, muitas vezes çpi
do fe fente prenhe, mataa dentro da barriga, & faz com
q nam venha a luz. Também acontece alguas vezes af-
feiçoarfe tanto ao marido,quechcgaafogircom cllcpc
ra fua terra pelo Hurar da morte . E afsi algús Português
ícs defta maneira efeapáram, que ainda oje cm dia viuc.
Porc ò que por efta via fc nam falua, ou por outra qual -
t)uer manha occulta,fera coufa impoísiucl efeapar de íii
as mãos com vida: porque nam coftumam dallaa nhíi
catíuo, nem difíftirám da vingança que cfpcram tomar
deilepor nenhua riqueza do mundo, quer feja macho
quertemea Saluofco Principal,ou outro qualquer da
aldeã acerta de cafar com algua eferaua fua contrariado
mo muitas vezes acontecejpelo mesmo cafo fica liberta
do,<5cafTentam cm nam pretenderem vingança delia,
por comprazerem á qnelle que a tomou por molher;
Mas tanto que morre de fua morte natural, por compri
rem as leis de fua crueldade ( auendo que ja nifto nam
ptFendem ao marido ) coftumam quebrarlhe a cabeça,
ainda que ífto raras vezes,porque le tem filhas nam dei
Mm chegar ninguema cila, & eftam guardando feu cor
poatequeodemáfcpultura.
F j 50utro$
SSi^v,Tãàrt'+a>v*mrf**r.**áir*ai^Èr.'*Mmírjimwn<M*
r«MW««™*g^^**re««m5w«M^»^A«.^w
HISTORIA 0X PROVÍNCIA
f Gdtros índios doutra naçam difíerente ,fe acham ne-
ftas partes,ainda rnaisferoces Sc de menos razão q cftes.
Chamaníe Aimorés3osquaes andam por efta coita co-
mo íakeâdores,& habitam Ja capitania dos Ilheos ate a
de Porto feguro, aonde viera ter do fercam noannodc
^5, pouco mais ou menos. Acaufade reíidíréneíta par
temais que nas outras, he por ferem aqui as terras mais
âccomodadasafeu propofi to, afsi pelos grandes matos
me tem onde fempre andam emboscados, como pela
niuitacaçaquchanellas,que he o feu principal manei-
jnentodequefe fuftentam . Eftcs Aimorés iam mais ai
i:os & de mayor eftaturaqueos outros índios da terra,
com a língua dos qes nam tem a deftes nenhua femelha
ca nem parentefeo. Viuem todos antre os matos como
brutos animaes,fem terem pouoações nem cafasemq
fe recolham . São muy forçofos em extremo,& trazem
hus arcos muy compridos &groflbs cóíbrmes a fuás For
f ças,&asfrcchasdamesmamaneira . Eftes Alaruestetn
| feito muito dano neftas capitanias depois que deceram
f a efta cofta,& mortos algus Portuguefes & efcrauos,pot
| que fam muy bárbaros, & toda a gente da terra lhes he
p odiofa . Nam pelejam em campo,nem tem animo pêra
| iflo: poenfe antre o mato junto de algu caminho,& tatl
2 to que alguem pafla,atiranlhc ao coraçam,ou a parte on
cie o matem,& nam despedem frecha que nam na em-
preguem . As molherestrazé húspaos groííos á mane i-
rade
SA NCTA CRVZ; $jj
ra de maças com que os ajudam a mataralguas pefifqas
<|ndo fe otFerecc occafiam . Ate gora riam íc pode achai
nenhu remédio pêra deftruir cfta pérfida gente: porque
canto q vem tempo opportuno, fazem feus faltos,& lo-
go fe recolhem ao mato muy de prefía,onde iam tam li
geiros & nianhoÍQS, que quando cuidamos que vam fo
gindo ante quem os perfegue, entam ficam atras efcon
didos atirando aos q paííam descuidados : &defta ma-
neira matam muita gente. Pela qlrazam todos quãtos
Portuguefes & índios ha na terra os teme muito : &aísi
onde os ha, nenhu morador vai a lua fazenda por terra,
que nam leue çoníigo quinze vinte escrauos de arcos &
frechas pêra fua defcnfàm . O mais do tépo andam der-
ramados por di ueríàs partes, & quando fc querem ajun
tarafTuuiamcomo paffaros,ou como bugios,de manei
raq húsaos outros 1c entendem & conhecem, íèm fe-
rem da outra gente conhecidos .Nam dam vida hua ío
hora a ninguém, porque íàm muy repentinos &acele
radosnotomardefuas vinganças .& tanto, que mui-
tas vezes eftando a peffbaviua, lhe cortam a carne, &
lha eftam afiando & comédo á vifta de feus olhos. Sam
finalmente eftcsSeluagéstamafperos & crucis,q nam
Tc pode co palauras encarecer fua dureza . Algus delles
puueram jaós Portuguefes ás nuos: mas comofejáta
brauos & de côdiçã tá efquiua nuqua os poderá amãfar
F 4 nem
^.|
'Aa?A*M?.i**r.\».mr.'+ví*m.'.'*.*rj*ttv*ãrAti
rA*m'Âr&àttÀL'SÀLV±'lUXI<W&.'VtVi'l**'iin'i'*i?i
«cm fomente a nenhua ícruidam ,comoo$ outros ín-
dios da cerra que nam rceufam como eftes a fogeiçam
do catiueiro.
f Também ha hus certos índios junto do rio do Mar*
iiham, da bãda de Loefte, em altura de deus grãos, pou
co mais ou menos, que fechamãoTapuyas,osquacsdi
fcem que Iam da mesma naçam deftes Aimorés, ou pe-
lo menos irmãos cm armas, porque ainda que fe encó-
trem nam offenJem hus aos outros . Eftes Tapuyasna
comem a carne de nenhus contrarios,antes íâm imigo$
capitães daqucllcs que acoftumão comer,3cos perfeguc
com mortal ódio. Porem pelo contrario tem outro ri-
| to muito maisfeo& diabólico, contra natureza, &dt-
gno de mayor cfpanto . E hc, que quando algu chega z
cftar doente dè maneira que íedescófie de íuavida,feu
pay ou mãy, irmãos,ou irmaãs,ou quaesqr outros pa-
rentes mais chegados,© acabam de matar com fuás pró-
prias mãos, auendo q vfam afsi com clle de mais pieda-
I de,quc confinarem queamortcocftcja lènhoreando
& confumindo por ter mos tam vagarofos . E o pior que
hc,qucdcpoisdíftooaíTam & cozem & lhe comem to-
da a carne,& dizem que nam hãodefoffrer q couía tão
baixa & vil, como hc a terra,lhes coma o corpo de quem
clles tanto amam,& q pois he feu parente, & entre cllcs
hatãtarazam dcamor,qucfepultura mais honrada lhe
, podem dar que mctello dentro cm íi & agafalhalo pe-
sa íempre cm fuás entranhas»
» — *»~~— — — ,— -Jw^»/wi»».w «■■»■ .1»^,,. mfj ^...m» «wm mi lUlllllli
arasnsnzresrwTsiíEn!^^
1'AtfCT'i CRVZ- f U 4Í
fE porque meu intento principal nam foy tratar aqui
fenam daqueiles índios q íamgéracs pelacofta ,com 5
Portuguefestem cõmunicaçam, na me quis mais deter
cm pai ticulatizar algus ritos defta & doutras nações dif
fercntesquehánefta prouincia,por me parece q feria
temeridade & falta de confideraçamefereuer emnifto-
tiatam verdadeira,coufasemquc por ventura podia a*
uer falfas informações, pola pouca noticia que ainda te
mos da mais gentilidade que habita pela terra dentro.
f Capitulo i j . Dofruho que fa^em neflas partes oí
Tadres da Companhia comfua doflrina.
< jifí/^s^>n
Or todas as Capitanias defta prouineía è2
ftam edificados mofteiros dos Padres da
companhiade I E S Vj &Teitas cmalgua*
partes alguas Igrejas entre os índios q fatn
dcpaz,ondc reíidcm algus Padres pêra os doutrinar Sc fa
zcrChriftaos: o que todos aceitam facilmente fem con
tradiçamalgua. Porque como ellesnam tenham nhua
ley, nem couía entre íi a que adorem ,hclhcs muito fá-
cil tomar efta noíTa. E aíài também com a mesma facili-
dade, por qualquer couía lcuea tornam a dcixar,& mui
tos fogem pêra o fertam, depois de bautizados & inftrui
dos na doutrina Chriftaá . E porque os Padres vem a ia
conftancia que ha nellesJ& a pouca capacidade que cetn
pêra obfcmarcm os Mandamc tos da ley de Deosf prin-
cipal--
aiatáraàv,!
iXVkà!òk£ZAA?JàM^i£tÀ^'lÀ*£i^'XÃZal±',!lLL^à.V*MS±*l2Xl^
HISTORIA DA PROVÍNCIA
cipalmente os mais antigos, que fam aquelles em q me
nos frucfcificaa fetnente de lua doettina) procuram cm
efpeciaiplantálaem feus filhos, os quaes leuam de mi*
ninos infiruidos nella . E defta maneira fe tem efperan
ça( u> diante a diuina graça) que peio tempo adiante
fe va edificando a religiam Çhriftaã por toda cfta pro-
uincia^&queaindancIíaHoreçavniuerraímenteanof-
íà íànéia Fé catholiça^ como noutra qualquer parte da
Ch.riftandade . E pêra que o fruílo defta do*5lrina fe iu
perdcfle,antcs de cada vez fofle em mais crecimento,dc
terminaram os mesmos Padres de atalhar todas as occa
fiões que lhe podiam da noííaparte íer impedimento^
cauíade eícandalo, & prejuízo ás conciencias dos mora
dores da terra . Porque como eftes índios cobiçam mui
toalguascoufas que vao defte Reino, çonuemafaber,
camiíàs,pelotes,ferramentas,& outras peças femelhan
tes^vendianfea froco delias híis aos outros aosPortu-
guefes ; os quaes a voltas diílofalteauam quantos que-
riam^ fazianlhçs muitos agra nos femningué lhes ir i
nião.Masjâgoranamhaefta desordem na terra, nem
resgates como foya , Porque depois que os Padres virão
a fem razam que com elles fe víaua , & o pouco fcrtiiço
de Deos que daqui fe feguia ,prouèram nefte negocio
& vedaram (como digo) muitos faltos que faziam os
mesmos Portuguefes por efta çofta: os quaes encarrega
qam muito fuás conciécias com catiuarem muitos In-
dipsçonçra direito^ mo ucrenlhes guerras injuftas . E
pêra
j ff i— -■■■■» fw» ».-. ■— m.-** -.-_-,. -j^- mji.-» ms--^ -.-»■- m. .■» — ■ . ■» mCl» m mm lif>M«l m mtM.m**\m* HIMtMiU ABOft •»» AKaiaúi .& MM truuumuUU
g^raTT^TTiWTTATrATreMra^^
SANCTA GRVZ: 4 ê
pêra enitar tudo iíta, ordenaram os Padres, & fezeram
com os Gouernadores &: Capitães da terra, que rum
ouueífem rnais resgates daqueila maneira, nem conferi
tiffem que foífe nenhum Portuguesa fuás aldeãs fem li
cença do íeu mesmo Capitam . Ele algum faz c intra
rio, ou osagrau^ per qualquer via que7eja,aindaquc va
com licença, pelo mesmo cafo hc muy bc caftigado^co-
formeafua culpa. Alem dífto,pcra que neftaparteaja
mais defengano, quantos eferauos agora vem nouame
te do íertam, ou de húas capitanias pêra outras , todos le
uam primeiro a alfandega,& ali os examinão & lhes fà
zempreguntas,qucm os vendeo,ou como foram resga
tados: porque ninguém os pode vender fenam ícus pa-
is (fe for ainda com extrema neceísidade)ou aqueiles
que em jufta guerra os catiuam : & os que acham mal
acqueridos poemnos em ília liberdade. E defta maneira
«quantos índios fc compram fam bem resgatados , & os
moradores da terra nam deixam por iffo de ir muito a-
uantecom fuás fazendas.
f Outros muitos beneficios& obras piasse feito cftes Pa
dres & fazé oje é dia neftas partes,a q có verdade íe nam
pode negar muito louuor. E porq ellas fam taes q por íl
fe apregoa pela terra,ná me quis intermeter a tratalas a-
qui mais por extéforbafta fabermos quã aprouadas fam
c toda parte fuás obras por fanótas & boas,& q fua tença
nam he outra fenam dcdicallas a noííò Senhor, deqnc
íome te eíperã a gratificada & premio de fuás virtudes.
jCapi.i^J
•ALVÉilLVÍàr.A+VAVfAmrsiw+aMivrjAi
i»#4ifMiyj^aAVjg/x««tvjt'.ui».<iwiitfii»>t'i»,u'ittt^^^^^^
',W»TT.,.'WVVT,!VW,WltllW1ftWrn%Tr.VT,w
I
I
I
J
!
I
I
I
HISTORIA DA PROVÍNCIA
^ ^/jíV«/o 1 4. Da* grandes riquezas qmfe efperatò
da terra do feriam.
Sta prouincia San#aCruzaaIcmdefcrtí
fértil como digo , & abaftada de todolos
mãtimcntos neccfíarios pera a vida do ho
mcm,hecerto fer também muy rica, &a-
uer nella muito ouro & pedraria,dc quefe tem grandes
esperanças. E a maneira de como iftofe vco a denun-
ciar & terporcoufaaueriguada % foy por via dos índios
da terra í Os quaescomo nam tenham fazendas que os
detenham em fuaspatrias,& íeu intento nam feja outro
fenam buscarfempre terras noiías,a fim de lhes parecer
que acharam nellas immortalidadc & descaníb perpe-
tuo,açontccco leuantarenfe híis poucos de fuás terras,
& metereníe pelofertam dentro: onde depois de terem
entrado alguas jornadas, foram dar com outros índios
feu$çontrarios,&ali tcuçram^omelies grande guerra.
E por ferem muitos & lhes darem nas coitas, nam fepo-
déram tornar outra vez a fuás terras ; por onde lhes fov
forçado entrar pela terra dentro muitas legoas .Epelo
trabalho & mivida q nefte caminho palTaram , morre-
ram muitos dclles;& os que eícapáram foram dar c hua
terra onde auia alguaspouoaçôes muy grades & de mui
tos vezinho$,os qcs pofiuiã tanta riqueza, q affirmárã a
uer ruas m uy cõpridas entre ellesmas qes fe nã fazia ou -
tra çoufa fená laurar peças douro&pedraria.Aqui fe detc
«crãalgus diascó eftes moradorcs;o$qes védolhesalguaa
feiram cus
Iva a.v* >wmai
» »-•■« »-•-•-< w» f-"» '«m» t
\matmmumMia.
$A NCTA CRVZ. '47
ferramentas que elles leuauam confígo, pregutaranlhes
de quem as auum,ou porque meyos lhes vinham terás
mãos •Responderanlhcsq hua certa gente habitauaao
longo da colh da banda do Oriéte, q tinha barba & ou
tro parecer ditfercnte, de q as alcançauam > que íàm os
Portuguelès . Os mesmos íinaes lhes deram eftoutros
dos Caftelhanos do Peru, dizendo lhcs^ també da ou-
tra banda tinhatti noticia,auer gente fcmelhante,cntão
lhes dera certas rodellas todas chapadas douro, & esmal
tadas de cfmcraldas:& lhes pediram que as leuaflcm,pe
ra que fe a caio foflem ter cõ elles a luas tcrras,lhes dixef
íem, que fe a troco daquellas peças & outras femelhan-
tes lhes queriam leuar ferramentas & ter comunicação
çõ clles,o fezeflem q eftauam preftes pêra os receberem
cõ muito boa vontade. Depois diftopartiraníè dahi&
foram dar em o rio das Amazonas, onde íe embarcaria
cm alguas Canoas q fczeram:& a cabo de terem naue-
gado porclle acima dous annos , chegaram á prouincia
do Quito,terra do Peru pouoada de Caftelhanos. Os ci-
es vendo efta noua gente, efpantaranfc muito,& nã la-
biamdeterminardondeeram,nemaqvínham.Maslo
go fora conhecidos por getio, da prouincia íàn&a Cruz
de algus Portugucfes q entam na mesma terra íe acha-
ram . E pergantado por elles a cauía de fua vinda conta-
ranlhcs o caio meudamente, fazendoos fabedores de tu
do o q lhes auia fuecedido . E i fto veonos á noticia , aísi
por via dos Caftelhanos do Peru, onde eftas rodellas fa
rara
!l4y*4y*AyAAyAAyAAyA*y^^
f,r.WTATrATT.&TiT.%TT.CT,n%TrATTATr.frT,ra^^
HISTORIA DA PROVÍNCIA
rim vedidasporgrande preço, como pela dos mesmos
. Portuguefes q la eftauam quando ifto açonteceo ;cõ os
quaes faliram ai gus homés defte Rei no, peííoas de au*
toridade,&dignasdeçredito,queteftificamouuirélhes
affirmar tudo ifto por excenfo da maneira q digo , Eia-
befe de certo que efta toda efta riqueza nas terras da con
quifta delRey de Portugal ,& mais perto fem çõparação
das pouoações dos Portugucfes q dos Caftelhanos. Ifto
fe moftra claramente no pouco tempo q poferam eftes
índios em chegar aei!a,& no muito que defpendéram
cm paíTarem dahi ao Peru;q foram dous annos como ja
diífe. Alem da certeza que por efta via temos, ha outros
rnuitos índios na terra ,que também affirmãp auer no
fertam muito ouro: os quaçs poftoq íarn gente de pou
ca fee & verdade, dafelhes credito nefta parte,, poi q acer
qua difto os mais delles fam conteftes , & faliam c di.ucr
ias partes per hua boca . Principalmente he pubrica fa->
2 ma entre elles,q hahúahgoamuy grande no interior
| da terra, donde procede o rio de iam Francifco,de que ja
% tratey: dentro da qual dizem auer algúas ilhas,&; nellas
| edificadas muitas pouoações ,'& outras orredor delia
muy grandes, onde também ha muito ouro,& mais qa
t;idade(íegundo feaffirmajqueem nenhíía outra parte
% deftaprouincia, Também pela terra dentro, nam mui-
to longe do rio da Prata descobriram os Caftelhanos
hua mina de metal,da qlíe té leuado ouro ao Peru, & de
cada quintal delle dizem quçfç tirou quinhentos &lç>
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tenta cruzados,& de outro trezentos & tantos: odema
is q delia fe tira hc cobre infinito. També defcobriram
outras minas de huas certas pedras brancas & verdes , Sc
de outras cores diuei fasras qes fam todas de cinco lèisqui
nas cada huaá maneira de diamãtes,& també lauradas
da natureza,como fe per induftna humaua o fora. Eftas
pedras nacem em hu vafò como coquo,o qual he todo
oco com mais de quatro centas pedras orredor,todas eti
Xeridas na pedreira com as pontas pêra fora . Algíís des-
fies pedernaesfe acham ainda imperfeitos: porque di-
zem quequandofam devezque por fi arrebentam, ca
tanto eftrondo, como íè difparafle hum exercito de ar-
cabuzes^ afsi acharam muitas, que com a fúria (feguu
do dizem) fe metem pela terra hú & dous eftadíos . Da
preço delias nam rrato aqui , porque ao prefente o nanei
pude faber: mas fey que afsi deitas como doutras ha nc
fta prouincia muitas &muy finas,& muitos metaes,do
defe podeconleguir infinita riqueza. Aqualpermitti-
rá Deos, que ainda em noífos dias fe descubra toda,pc-
ra que com cila feaugmente muito a coroa deftes Rei-
nos*, aos quaesdcfta maneira efperamos(mediante o fa
uordiuino)ver muito cedo poftos em tam feliceSc
prospero eftado , que mais fe nam
poífa defejar.
Fim,
1 Impreflb cm Lisboa , na oftlcina de Antónia
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